A PERFEITA MULHER CASADA NAS INSTRUÇÕES DO FREI LUIS DE LEÓN NO
SÉCULO XVI, REFLEXÕES PARA UM DEBATE
Lidiana Emidio Justo
da Costa
A obra A Perfeita Mulher Casada foi publicada em 1583, sendo uma espécie
de manual de instrução para Maria Varela Osório por ocasião de seu matrimônio.
Tratava-se de uma senhora pertencente a uma elite local da cidade de Salamanca
(Espanha). O Frei Luis de León, baseando-se em textos bíblicos sobre o
comportamento da mulher no lar e no meio social, acabou construindo e reafirmando
naquele momento, a postura da Igreja Católica tridentina sobre sua concepção
sobre o modelo feminino ideal.
Luis de León, nascido em Belmonte, e frei
agostiniano formou-se bacharel em teologia pela universidade de Salamanca.
Possuía uma sólida formação intelectual, dedicando-se durante sua vida a
escrever poesias voltadas para a moral cotidiana, odes de cunho religioso e
também traduções.
Em suas aulas costumava defender o
conceito de “verdade hebraica”, ou seja, o sentido ante escolástico frente a Vulgata de São Jerônimo. Entre os anos
de 1572 a 1576, foi preso pela Inquisição devido às acusações dos dominicanos e
dos Jerônimos, baseados nos seguintes argumentos- que o mesmo explicava o Cânticos dos Cânticos em língua romance;
priorizava o texto hebraico em detrimento da Bíblia, escrita em latim (o que,
de acordo com seus acusadores, invalidava a Vulgata) e de ater-se ao sentido literal da
Bíblia ao invés dos sentidos alegóricos. Quando saiu da prisão, voltou a
lecionar na Universidade de Salamanca e avançou nos seus estudos e
interpretações.
Com vistas à compreender o seu tempo é
necessário recordar que a Igreja Católica introduziu na sociedade a mentalidade
da castidade e continência, e no que tange ao universo feminino, construiu uma
série de regras de comportamentos pelas quais toda mulher dita “decente” deveria
se orientar e as que não atentassem para os aconselhamentos seriam consideradas
pecadoras e perigosas (PRIORE, 1993).
A visão pedagógica visando disciplinar
a sexualidade feminina, chama atenção pelo fato de que esses sermões eram
escritos por homens dedicados aos ofícios sacerdotais, como foi o caso do Frei Luis de León e de outros religiosos, seus
contemporâneos. São Ambrósio, nesse sentido, justificava a submissão da mulher
dizendo- “Adão foi induzido ao pecado por Eva e não Eva por Adão, sendo justo
que aquele que foi induzido ao pecado pela mulher seja recebido por ela como um
soberano” (PRIORE, 1993, p. 128).
Nessa mesmo viés de discursos
disciplinadores, a pesquisadora Priore (1993) descreveu a opinião de um
eclesiástico que analisava a mulher como: “desviante com olhos de serpente,
mãos de harpia, voz de sereia e coração de fúria” (1993, p.129).
Portanto, como se pode perceber pelo
teor dos discursos desses religiosos, as mulheres precisavam ser “adestradas”,
pois, grande perigo advinha de alguém tão encantadora e ao mesmo tempo
considerada pelas vozes masculinas- desviantes. Assim, como contraponto à
mulher “perigosa”, vista como a própria encarnação de Eva, a igreja irá exaltar
a mulher casada, doadora e submissa como foi a construção da imagem de Maria,
ícone de mãe devotada e abnegada.
Percebe-se essa visão dualista nas
recomendações do frei à Maria Varela Osório, ele deixou transparecer nas linhas
endereçadas a esta senhora, o que sentia em relação àquelas mulheres que não se
enquadravam nas prédicas normatizadoras da igreja:
“A má mulher é chaga mortal e destroça
o coração. A mulher que não dá prazer ao marido é como o corte das pernas e
decaimento das mãos. A mulher deu início ao pecado, e por sua causa morremos
todos” (LEÓN, 1996, p. 20).
Da mesma forma que execrava essas
mulheres pelos seus comportamentos considerados desviantes, tal como num
receituário médico, prescrevia como deveriam se comportar àquelas que quisessem
agradar a Deus e ao marido:
“Porque servir ao
marido, governar a família, a criação dos filhos, a conta que junto com tudo
isso se deve ao temor a Deus, a guarda da limpeza da consciência, tudo o que
pertence ao estado e ao oficio da mulher casada, são obras que requerem cada
uma por si muito cuidado” (LEÓN, 1996, p. 13).
Essa mulher atenta ao seu lar, devotada
à família, criação de seus filhos, bem como dedicada em servir ao marido e
temente a Deus, fazia parte do projeto reformista da Igreja Católica, que
enxergou na figura feminina uma aliada, no que tange à transmissão dos valores
cristãos a uma futura geração.
Foram discursos como estes que ao longo
do tempo se cristalizaram no imaginário social, aprisionando a mulher na esfera
do lar, negando-lhe o sentimento de sujeito de sua própria história.
E dessa maneira, surgiu a imagem
sagrada da “santa-mãezinha”. Onde Eva foi contrastada à Maria, modelo de
maternidade e da pureza, sublimado pelo catolicismo. Com isso, observa-se que o
cristianismo ressuscitou Maria com evidentes propósitos de exaltar um tipo
ideal de feminilidade.
Discutindo esta questão, Pauline
Schmitt-Pantel afirmou que:
“[...] Maria, a partir de então o ideal
de mulher no cristianismo é a encarnação da nulidade, apagamento; a negação de
tudo quanto constitui a individualidade superior: à vontade, a liberdade, o
caráter” (2003, p.147).
Este ideal feminino ressuscitado pelo
cristianismo fez com que surgissem códigos de condutas severos para a mulher, os
quais podem ser percebidos no teor do discurso do Frei León.
Refletindo sobre essa questão, é
possível identificar no cristianismo um conflito eterno entre masculinidade e
feminilidade, sendo a mulher, analisada como um canal pelo qual adentrou o pecado
no mundo e responsabilizada “por toda desgraça humana [...] obrigada a ser
submissa ao homem, e eternamente pagar por sua dívida irremediável e milenar” (LEMOS, 2007, p. 4).
Por outro lado, ao homem coube o
privilégio de ser a representação do próprio Deus. A construção social e
cultural dessa concepção acaba também exigindo do homem comportamentos
singulares, tais como atitudes másculas, ser o provedor da casa e proteger a
mulher, apresentar-se forte e por vezes grosseiro (LEMOS, 2007).
As consequências dessa construção
cultural ainda se faz sentir na contemporaneidade, mesmo reconhecendo as
conquistas e avanços das reinvindicações pela inserção da mulher na sociedade. Ainda
é perceptível em pequenos gestos e discursos cotidianos, o quanto fomos
influenciados por um certo modo judaico-cristão de conceber a mulher.
Analisar a obra do frei Luís de León
(homem medieval e pós-renascentista), é mergulhar num universo no qual era
imprescindível silenciar e adestrar os corpos femininos, algo totalmente
impensável para uma mulher do século XXI, mas como bem afirmou Mariano “não há
autor nem livros superados, se pensados em determinadas épocas e contextos de
escrita” (2011, p. 11).
À vista disso, leiamos o que disse o Frei
Adalberon de León,
“Para que se enfeita a mulher casada?
Porque, para dizer a verdade, a resposta é amor próprio desordenado, apetite
insaciável de vã excelência, cobiça feia, desonestidade arraigada no coração,
adultério, baixeza, delito que jamais cessa [...] Oh, nojo, oh fedor, oh
torpeza!” (León, 2006, p. 60).
Como se pode perceber pelo teor
inflamado do discurso do religioso, é perceptível sua indignação com mulheres
casadas vaidosas, ato que, segundo ele, era um demonstrativo dos “maus desejos”
guardados no íntimo desse tipo de mulher, conduta que dentre outros adjetivos,
beirava à torpeza.
Pontos de vistas como este, mostram que
o corpo feminino é, desde muito tempo, objeto de encantamento, atração e prazer.
Um corpo que, por vezes, tendia a ser chave para a perdição, e outras, devoção.
Nesse sentido, é importante ressaltar
que o estudo sobre mulheres, abundou em meados da década de 1970. Momento fértil
no campo das pesquisas, tendo em vista que foi um contexto no qual avançaram os
protestos e questionamentos das feministas ao redor do mundo, promovendo debates
plurais no meio acadêmico, a respeito de temas, como- cultura/raça/etnia.
Essas reflexões proporcionaram
mudanças/rupturas na historiografia e na concepção do sujeito histórico. Atentando
para os novos objetos, novas abordagens e novos sujeitos. Considerando, como
bem advertiu Burke, a “heteroglossia da história” (1992, p. 15).
Essa heteroglossia citada por Burke
(1992) refere-se às várias vozes dos sujeitos históricos, que, de acordo com o
autor, são democráticas, por procurar respaldar homens e mulheres vistos como
excluídos. E, esta possibilidade de atentar para um campo que precisa ser
encarado com um outro olhar, abre leques de possibilidades para o pesquisador,
dando mostras de que a história tradicional ou Rankeana, que se centrava nos
grandes nomes, guerras e relações diplomáticas, é uma perspectiva analítica que
merece ser criticada e revisitada.
Notadamente sem desconsiderar suas
produções teóricas, mas pô-las à prova não as tendo como verdades
inquestionáveis. Partindo do pressuposto de que: “A história que se ‘aprende’
não é aquela ensinada nos bancos escolares. Não há verdades absolutas, nem conhecimento
histórico eterno ou imutável” (SINOTI, 2005, p.37).
Alguns pesquisadores que se debruçaram sobre
a temática avançaram em alguns questionamentos, desconstruindo pressupostos
arraigados, bem como trazendo outras problemáticas para o debate.
No estudo As mulheres e os silêncios da história, da historiadora Michelle
Perrot (2005), obra publicada originalmente entre 1974 e 1998, em revistas
especializadas, a autora, partindo de uma reflexão crítica a respeito das
produções bibliográficas, eminentemente masculinas sobre as mulheres, procurou
escrever uma nova história na qual as mulheres falassem, ou seja, fossem
sujeitos.
Analisando os espaços ocupados pelas
mesmas, tais como o ambiente privado do lar, o trabalho e as mulheres nas
cidades, Perrot (2005) questionou os silêncios das narrativas masculinas, as
quais negligenciavam a importância das mulheres no processo histórico das
sociedades. A partir da obra História das
mulheres no Ocidente (publicada originalmente entre 1990 e 1992),
organizada em cinco volumes com o pesquisador Georges Duby, entre o final dos
anos de 1980 e início dos anos de 1990, a autora avançou nos estudos críticos e
na produção de uma nova história sobre as mulheres.
Nessa mesma linha analítica cabe
destacar outros estudos relevantes sobre o tema. Em Rebeldia e submissão: estudos sobre a condição feminina, de
Albertina Costa e Cristina Bruschini (1989), as autoras fizeram uma reflexão
sobre a condição feminina e as tramas sociais que as mesmas estavam inseridas.
Para isso, apropriam-se de conceitos importantes para a análise, como: o
imaginário, as representações, as mentalidades e saberes em torno da
sexualidade feminina, procurando perceber na construção da identidade
individual as relações, muitas vezes problemáticas, entre os gêneros.
Na mesma direção, na obra: Gênero: uma categoria útil para a análise
histórica, de Joan W. Scott (1989), a pesquisadora trouxe, na década de
1980, muitas reflexões para o debate, ao questionar a clássica concepção
ocidental a respeito da oposição tida como
universal e atemporal entre homem e mulher (PISCITELLI, 2002).
Embora não negando as
diferenças entre os dois sexos, Scott inovou ao procurar trazer para o centro
dos debates as relações culturais construídas nas sociedades ao longo do tempo
sobre o homem e a mulher. Ela observou ainda que as relações entre gênero e
poder estão imbricadas, levando à reflexão de que as relações de gênero passam
pelo crivo da vigilância. É importante salientar que a autora foi
muito influenciada pelos estudos de Michel Foucault (1988) sobre sexualidade.
Influenciados pelos estudos sobre
mulheres e as novas perspectivas de abordagens tem-se a obra: Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil colônia,
de Mary Del Priore (1993), fruto de sua tese de doutoramento. Nesse trabalho, a
autora faz uma reflexão acerca do processo civilizatório europeu no século XVI
e da orientação da Igreja Católica tridentina sobre a normatização das
condutas, corpos e hábitos do público feminino.
Priore (1993) resgata ainda a história
do Brasil colonial, atentando para o comportamento feminino em relação à
vigilância dos costumes, bem como as brechas encontradas por muitas mulheres
para burlar essas normatizações. É importante observar nesse estudo a
abundância de fontes sobre mulheres no período seiscentista e a preocupação da
autora em demonstrar os discursos da medicina e da igreja coadunados em
demonstrar a inferioridade das mulheres na sociedade.
Já nas obras O corpo feminino em debate, de
Maria Izilda S. Matos e Rachel Soihet (2003); Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica, de
Bonnie G. Smith (2003); Traduzindo o
debate: o uso da categoria de gênero na pesquisa histórica, de Joana Maria
Pedro (2005), pode-se perceber a preocupação dessas autoras em melhor
problematizar as perspectivas de gênero.
Nota-se, nos trabalhos mencionados, que
houve uma preocupação em trazer para o debate os discursos dos sujeitos
masculinos e as continuidades ao longo dos séculos- da visão preconceituosa
sobre as mulheres, caracterizando-a muitas vezes como o sexo frágil, razão que justificaria sua submissão na família ao
patriarca ou até seu baixo salário em relação aos homens. Afinal o corpo
feminino, dito frágil/sensível, nesses discursos, destoavam e burlavam as
respectivas concepções, seja demonstrando uma falsa sujeição ou mesmo rompendo
os paradigmas (PRIORE, 1993).
Nesse aspecto, é importante chamar
atenção neste trabalho, para a continuidade de pensamentos e comportamentos que
foram construídos pela cristandade ocidental, dos quais, sofremos inegável
influência.
Entendendo, segundo afirmou Jean
Delumeau (1989), que a influência da religião judaico-cristã operou no sentido
de diabolizar o corpo feminino. Isso explicaria, segundo o autor, o
enraizamento das ideologias machistas que continuam vivas no imaginário da
sociedade ocidental, como explicitado anteriormente.
Levando-nos a compreender que um certo
Benedict, teólogo medievalista do século XV, referenciado por Delumeau (1989,
p. 328), tenha em sua época alertado para os estigmas dos
sentidos sexuais que o nome mulher carrega, dizendo: “MVLIER, M: a mulher má é
o mal dos males; V: a vaidade das vaidades; L: a luxuria; I: a ira das iras; E:
a fúria das fúrias; R: ruína dos reinos”.
Tal compreensão nos possibilita atentar
para os meios utilizados para confinar o corpo feminino, que, segundo o
medievalista, levariam a “ruína dos reinos”, ou a perdição do homem. A solução dos
doutrinadores católicos, era impor à mulher a sentença de nulidade, adestrando
seu corpo, que era fonte de atração, pelo dito sexo forte (o homem). Corpo que
exalava odores e apresentava secreção menstrual, por fim, um corpo que tinha a
capacidade de gerar um outro ser Delumeau (1989).
Portanto, entre atração e repulsa, é ao
mesmo tempo compreensível que a anatomia feminina durante séculos tenha perdurado
nas pautas das discussões de teólogos, filósofos e médicos preocupados em
desvendar o mistério de tal fisiologia.
Roy Porter (1998) diz que na
antiguidade Aristóteles e seus seguidores, afirmaram que as mulheres “eram
machos defeituosos e monstruosos, seres nos quais a genitália (designada para
ser do lado exterior do corpo), “por falta de calor e de força, falhou na
extrusão” (1998, p.130).
Com sua natureza mais fria e mais
fraca, e sua genitália contida internamente, “as mulheres eram essencialmente
equipadas para a criação dos filhos, não para uma vida racional e ativa dentro
do fórum cívico” (1998, p.130). Como
temos discutido até o momento, ao longo dos séculos construiu-se um imaginário
no qual o corpo feminino era concebido de diversas formas pejorativas,
inclusive visto como “homens imperfeitos”, uma cópia mal formada do homem. Justificativa
biológica que só veio a ser questionada em séculos vindouros.
Sendo assim, não é de se estranhar o
discurso de ojeriza do Frei Luís de León (não custa recordar, marcado por uma
visão de mundo ao qual estava inserido) sobre a mulher que se negava a ser a
boa-esposa-mãe-dona-de-casa- “Oh, nojo, oh fedor, oh torpeza!” (2006, p. 60). Tendo
em vista que a representação que se construiu sobre a mulher sempre foi marcada
pela inferiorização ou demonização. Dessa maneira, àquelas que não se
adequassem ao padrão normativo cristão-católico, eram rechaçadas e vítimas de
mexericos e olhares enviesados.
Fazendo com que não poucas mulheres ou
se adaptassem às regras impostas por um discurso disciplinador ou fingissem uma
acomodação. As que burlavam tais prédicas, muitas vezes aproveitavam-se das
brechas cotidianas para viver segundo suas próprias regras, ainda que sob
alguns disfarces ou não.
Teria Maria Varela Osório, destinatária
dos conselhos do Frei Adalberon de León, escolhido seguir qual itinerário de
vida, o da Perfeita Mulher Casada ou
mascarar sua conduta “imperfeita” nas intricadas teias das relações sociais do
seiscentos?
Referências
Lidiana Emidio Justo da Costa é professora de
Ensino Médio da Escola Cenecista João Régis Amorim, em João Pessoa-PB; Graduada
em História pela Universidade Estadual da Paraíba; Especialista em História do
Brasil (Cintep-PB); Mestra em História pela Universidade Federal da Paraíba e
atualmente doutoranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal de Pernambuco, sob a orientação do professor Dr. José Bento Rosa da
Silva. E-mail: leejusto@hotmail.com.
BURKE,
Peter (org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.
COSTA, Albertina; BRUSCHINI, Cristina
(Orgs.). Rebeldia e submissão:
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DELUMEAU,
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DUBY, Georges; PERROT, Michelle (Org.).
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1991.
FOUCAULT,
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Entrevista.
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MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero a nossos
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MATOS, Maria Izilda S. de; SOIHET,
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PRIORE, Mary Del. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no
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SCHMITT-PANTEL. Pauline. “A criação da
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SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica, 1ed. 1989.
SINOTI,
Marta Litwinczik, Quem me quer, não me
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SMITH, Bonnie G. Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica. São
Paulo: EDUSC, 2003.
Lidiana, primeiramente quero deixar os meus parabéns pela comunicação. Ao ler o texto também me recordei de Betty Friedan no seu livro "A mística feminina (1963)", e outras personalidades que lutaram em prol de maior igualdade entre homens e mulheres. O seu texto retrata sobre uma mulher do século XVI, porém ainda na atualidade existe um grande preconceito em relação as mulheres; infelizmente, o machismo ainda está muito presente na sociedade. Você retrata um pouco sobre a representação feminina, quero saber se já leu sobre esse conceito na ótica de Chartier. Gostei muito do seu texto. Obrigado por compartilhá-lo.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Edivaldo Rafael de Souza.
Caro Edivaldo Rafael de Souza, primeiramente agradeço pelo elogio e leitura do texto.
ResponderExcluirÉ inegável os efeitos de um discurso que foi se cristalizando ao longo do tempo e se tornando uma verdade sobre nós, mulheres. Em pleno século XXI, ainda vemos sutis ou escancarados preconceitos que pairam sobre o universo feminino, algo que é uma realidade, mas que acredito em mudanças a partir da educação. Mulheres como Betty Friedan, deixaram os seus legados, resta-nos avançar.
É muito pertinente a discussão de Chartier sobre representações, certamente caberia no texto. Como ele mesmo discutiu a diferença biológica entre homem/mulher se alicerça principalmente no campo discursivo, o qual, corrobora no processo de naturalização de certas concepções, como, por exemplo, a que delega determinados papéis sociais para ambos os sexos. Algo que podemos observar claramente nas prédicas dos religiosos mencionados no texto.
Embora não tenha sido mencionado, é inegável a influência de Chartier nas discussões de alguns pesquisadores que foram mencionados no presente artigo.
Mais uma vez, agradeço sua leitura, desejo excelentes leituras e discussões.
Abraços,
Lidiana Emidio Justo da Costa
Olá, Lidiana. Gostaria de agradecer por compartilhar um trabalho tão rico. É curioso observar como a herança judaico cristã ainda permeia em nossa sociedade, principalmente na questão da sexualidade e o papel social da mulher, apesar de todas as mudanças e transformações ao longo do tempo.
ResponderExcluirMinha dúvida vem quanto ao documento, a obra "A Perfeita Mulher Casada" foi um manual dedicado somente a Maria Varela Osório, ou foi publicado, tornando-se um guia de conduta para as mulheres da época?
Atenciosamente
Renata Sayuri Sato Nakamine
Olá, Renata. Concordo contigo, é realmente interessante como certos valores se perpetuam, ainda que com outros caracteres/temporalidades.
ResponderExcluirTrata-se de um livro dedicado à Maria Varela Osório por ocasião de seu casamento (logo na introdução, tem o título- À DONA MARIA VARELA OSÓRIO).
E onde ele dedicou várias páginas "pedagógicas", nas quais, apontava características de como ela deveria se comportar para ser a perfeita mulher casada (segundo sua visão).
Espero ter esclarecido sua dúvida.
Abraços,
Lidiana Emidio Justo da Costa
Olá Lidiana, gostaria de te parabenizar pelo texto. Além de muito bem escrito, toca em questões fundamentais para se pensar a construção social da imagem sobre as mulheres e os papéis por elas representados. Neste sentido, gostaria de te fazer uma pergunta sobre a relação Religião e Estado. O seu texto nos mostra de que forma a Igreja teve um papel relevante na construção de um imaginário sobre a mulher e você pontua a permanência de muitos desses aspectos na atualidade. Tendo em vista que o Estado deve ser o promotor de políticas públicas para as questões relacionadas à mulher, mas que a igreja teve um papel fundamental na construção de um imaginário sobre elas, na sua opinião, a religião na atualidade teria também uma responsabilidade neste debate? De que forma as igrejas poderiam contribuir para uma reflexão sobre o tema?
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns pelo texto!
Abraços,
José Rodrigo de Araújo Silva
À priori, agradeço por trazer a discussão ao simpósio e a parabenizo pelo discurso muito bem estruturado.
ResponderExcluirA discussão no que diz respeito ao papel da mulher sob o olhar do cristianismo tem se tornado cada vez mais pertinente, ainda mais quando consideramos o atual cenário socio-político que o Brasil tem enfrentado e enfrentará de forma ainda mais intensa durante os próximos anos. Considerando também a contemporaneidade da obra em questão, pergunto: como a mulher cristã do século XXI, ainda enraizada nos preceitos da Igreja, pode desvencilhar-se da pejoratividade atribuída ao corpo feminino para tornar-se a mulher dona dos próprios caminhos e escolhas e qual é o papel da igreja nesse processo? Haja vista que o poder masculino sobre a mulher foi "plantado" pelas religiões e que atualmente tem sido a própria igreja católica uma das maiores frentes no combate à violência generalizada contra a mulher.
Grata,
Lorena de Fátima Tavares Nascimento
ótimo texto e discussão, e como Lorena de Fatima disse "agradeço por trazer a discussão ao simpósio". As referencias bibliográficas foram maravilhosas, gostaria de saber se você tem mais livros para indicar sobre o assunto para além dos já citados.
ResponderExcluir- Ana Clara Fernandes da Costa
Oi Ana, que bom que a discussão proposta agradou, obrigada!!
ExcluirTem vários livros e autores que gosto, mas posso indicar pelo menos três para um início de pesquisa.
CARNEIRO, Henrique. A igreja, a medicina e o amor. São Paulo: Xamã, 2002.
PRIORE, Mary del. Histórias e Conversas de mulher. São Paulo: Planeta, 2003.
GAMA LIMA, Lana. Mulheres, adultérios e padres: história e moral na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1987.
Boa leitura!!
Lidiana Emidio Justo da Costa
José Rodrigo e Lorena de Fátima, eu agradeço demais a leitura atenta de vocês. É uma temática que tenho muita afinidade. Como as perguntas de vocês dialogam bastante, vou procurar responder as duas neste post.
ResponderExcluirNos dias que seguem, é possível observar os inúmeros avanços no que concerne à promoção de políticas públicas para mulheres. Isso fruto de reivindicações de uma militância feita por mulheres em vários Estados da federação. Podemos dizer que caminhamos, mas ainda falta muito para que as desigualdades salariais entre homem/mulher, o feminicídio, os julgamentos morais, comportamentais e até culturais que as mulheres sofrem no seu cotidiano venham realmente acabar.
Nesse aspecto, José Rodrigo e Lorena, penso que a religião pode contribuir nesse processo. Até porque as igrejas exercem um papel social relevante na sociedade. E, se essa influência, for posta a serviço do combate aos estigmas e preconceitos que pairam, por exemplo, sobre as mulheres, teremos muito a ganhar.
Em diversas ocasiões o Papa Francisco reconheceu a necessidade de maior valorização da figura feminina na sociedade e dentro da própria Igreja, no entanto, vemos que os cargos eclesiásticos são masculinos, algo que desejaria que num futuro próximo, houvesse maior flexibilidade. Diferente de algumas igrejas protestantes, historicamente essas igrejas sempre deram às mulheres uma maior autonomia nos espaços evangelísticos, inclusive algumas denominações aceitam mulheres como líderes de cargos eclesiásticos (pastoras, bispas), antes, eminentemente masculino. O que é bem inovador, merecendo maiores pesquisas.
A mulher cristã do século XXI apresenta-se de forma muito plural, não dá mais para conceituar um único padrão de comportamento. Mas, há de se destacar que muitas dessas mulheres, filhas de mães reprodutoras do machismo, não aceitam passivamente os postulados machistas que foram construídos para elas.
Espero ter respondido aos questionamentos de vocês, agradeço muito a leitura!!
Atenciosamente,
Lidiana Emidio Justo da Costa