COLONIZAÇÃO
INTERNA E NECROPOLÍTICA: VIOLÊNCIA, DOMINAÇÃO E O PAPEL DO INTELECTUAL
Rafael
Noschang Buzzo
1
INTRODUÇÃO
O processo de
dominação e reprodução da cultura das classes dominantes, quer através das
ideologias ou da necropolítica, só é possível através da ocultação dos sujeitos
históricos e domínio da produção intelectual. A educação, visto o contexto
atual, é a única capaz de fazer uma reflexão teórica e forjar um novo caminho
social, fugindo da dominação dos discursos eurocêntricos e de intolerância. A
escola deveria ser o centro formador de cidadão e emancipadora, mas somente
corresponde a fixar valores da classe dirigente e das desigualdades sociais.
2
COLONIZAÇÃO DO SABER: HOMO HOMINI LUPUS
Nos dias atuais,
quando analisamos o cotidiano, imediatamente concordamos com Frantz Fanon
quando ele diz: “Libertação nacional […] é sempre um fenômeno violento. Em
qualquer nível que estudemos.” (FANON, 1968, p. 25) Nossa sociedade
fragmentada, dividida entre classes desiguais, precisa novamente libertar-se. O
antigo colonialismo foi substituído por uma forma terrível de exploração,
disfarçada de ações democráticas e de discursos demagógicos, aniquila milhares
de vidas com uma violência invisível, perpetrada pela economia e política
(ZIZEK, 2014).
O sistema de
exploração atual, modernizado, tem suas raízes na implementação e “invenção” da
modernidade, tanto como categoria de pensamento, crença e valores. Mas, como
chegamos ao extremo da exploração? Como somos subjugados ao poder da morte?
Como nossa educação e o conhecimento passaram a serem excludentes?
O sistema proposto
pelo Professor Achile Mbembe (2016) explica em partes nosso sistema de
exploração atual, nosso Sistema Mundo. A necropolítica e o necropoder são
formas eficazes das novas ocupações neocoloniais. O que podemos compreender por
necropoder é uma forma de poder que tem características especiais como dinâmica
de fragmentação territorial, acesso proibido e expansão de assentamentos, visa
o controle social e a segregação.
O controle de movimentação
social que Mbembe chama de “rede complexa de fronteiras internas e várias
células isoladas” (MBEMBE, 2016, p 136) pode ser aplicado, como o autor
escreve, no caso da Palestina, e na nossa sociedade, nas favelas e periferias.
Essa divisão em pequenos espaços são obra da soberania para fragmentar e
imobilizar a população residente.
A tensão entre a
aplicação desta fração teórica de Mbembe para as camadas pobres e miseráveis é
que para o autor, que citando Eyal Weizman, acredita que os espaços ou
territórios escolhidos para os assentamentos, como os da Palestina e na
Cisjordânia, são “dispositivos ópticos de controle social”, enquanto que as
favelas e as periferias são locais de esquecimento. Na margem, há a
possibilidade de controle social pela exclusão não pela vigia. Consoante,
novamente entre teorias, nessa exclusão está o controle, separação e, mais
importante, reclusão. Não basta estar excluído, deve-se ficar na periferia, não
circular os locais sociais das classes.
O dispositivo ou governo
que exerce a soberania provém de um Estado independente. Não sofre da
colonização clássica, já operou o processo de independência. Como um governo
autônomo perpetra a necropolítica?
Diferente dos
exemplos de Achille Mbembe, sobre os regimes coloniais tardo-moderno, da
Palestina ou Cisjordânia, a necropolítica é método para os Estados capitalistas
modernos ou usando o termo de Sayak Valencia, Capitalismo Gore. Sendo uma
referência ao sistema capitalista hegemônico e global que utiliza a violência
extrema, explicita e injustificada “como precio a pagar por el Tercer Mundo que
se aferra a seguir las lógicas del capitalismo, cada vez más exigentes”
(VALENCIA, 2010, p. 15). A violência intrínseca no capitalismo, com seu poder
de morte e de ocultamento do outro, desmedidamente tem origem na junção da
episteme da violência ao capitalismo. Por episteme da violência Sayak explica:
“como el conjunto de relaciones que unen nuestra época con las prácticas,
discursivas o no, que se originan de ésta, creando ciertas figuras
epistemológicas contemporáneas que no guardan relación directa con lo que se
había venido conociendo como los modelos adecuados de interpretación de la
realidad; creando así una fisura en los pactos éticos occidentales y en la
aplicabilidad del discurso filosófico occidental ante las condiciones
económicas, sociales, políticas y culturales del mundo actual.” (VALENCIA,
2010, p.27)
Há sincronia com o
pensamento de Mbembe, que vê a violência extrema em uma escala global, vasta
com a depreciação das forças produtivas (MBEMBE, 2014, p. 299). Porém, como são
transferidos os valores do mundo externo aos países que já fizeram suas
independências?
A colonização Interna
se dá como evolução do estado burguês capitalista e opera nos níveis
econômicos, sociais e culturais (CASANOVA, 2007). É fruto de nativos que não
foram totalmente exterminados e escolhidos pelo colonizador para fazer parte do
governo colonizador. Após os processos de independência retorna ao capitalismo
neoliberal. As minorias, os grupos sociais que não faziam parte da elite
colonizada sofrem “condições semelhantes que caracterizam o colonialismo e o
neocolonialismo” (CASANOVA, 2007 p. 410). Os eleitos para fazerem parte da
elite colonizada assumem cargos no governo central, cargos militares as
responsabilidades jurídicas, oferecem aos participantes de sua classe vantagens
e benefícios. (CASANOVA, 2007, p. 410).
A elite colonizada,
agora no poder do novo Estado-Nação, explora as classes abaixo, tidas como
inferiores, “homo homini lupus”, a frase filosófica de Platos aplica-se aqui.
Exerce com todo o peso sobre a minoria o peso da morte, da violência e da
necropolítica. Neste estágio surge o projeto da modernidade, que é a submissão
da vida do homem sobre o signo da técnica e da ciência, por meio do controle da
natureza. (CASTRO-GÓMEZ, 2005, p. 80).
Os traços da
colonização são visíveis em todos os níveis sociais, principalmente na
estratificação social, onde a epidermização, assim como o fator econômico é
inferiorizante (FANON, 2008, p.28). Na atualidade o “mundo das raças” continua
existindo, sendo a linguagem usada na descrição do Outro, sua relação com a
memória e o poder. (MBEMBE, 2014, p.102). O sistema de “raças” funde-se com de
classe oprimida, sendo quase sinônimos. Para que isso ocorra, “a lógica deve
ser agregada à lógica do lucro, à política da força e ao instinto de corrupção
(MBEMBE, 2014, p. 112),
O projeto de
modernidade proposto por Santiago, pressupõe uma instância central, que o
estado, de onde todo o poder parte, organizando a vida de forma racional,
canalizando desejos, interesses e emoções dos cidadãos às metas definidas por
ele. O Estado Moderno detém, além de outras ferramentas, o controle e monopólio
da violência. Usada na tentativa de ajustar, encaixar ou submeter a vida dos
homens ao sistema de produção e ao tempo do trabalho (CASTRO-GÓMEZ, 2005, p.
81). Porque a elite, o Estado-Nação ou o colonizador vê a minoria como
inferior?
Uma boa pista pode
ser encontrada em Franz Fanon. Como indivíduo colonizado sofre um
aprisionamento pela violência a “[...]não ultrapassar o seu limite [...]”
(FANON, 1968, p. 39) todo o psicológico do colonizado, do autóctone, do
indígena é “muscular”, visceral, violento. O colonizado, apesar de toda a
hostilidade, inveja o colonizador (FANON, 1968, p. 39) é natural que quando
assume o papel do colonizador na gerência do novo Estado-Nação, garanta sua
permanência no poder, seus benefícios, seus lucros e a experiência própria de
ser colonizador. Age em prol de seus interesses e por querer ser colonizador.
Os Estudos
Subalternos também fornecem balizas para enquadrar e compreender a situação das
classes oprimidas. Nascido dos estudos marxistas indianos que possibilitaram a
clarividência da história dos oprimidos, antes apenas visto da perspectiva
colonizadora e hegemônica. Contra a história colonialista os movimentos
subalternos dão voz à história dos oprimidos e dos excluídos (FIGUEIREDO, 2010,
p. 84). Vemos a subalternidade em todas as sociedades colonizadas, onde o
subalterno não é somente o oprimido, mas faz parte do mundo capitalista, global
e excludente, de onde o sujeito não tem voz e outras classes falam por ele
(SPIVAK, 2010, 275).
Neste contexto as
classes oprimidas em todo o Sul global podem ser vistas como subalternos, na instância
de que quando não sofre da colonização clássica, sofre de neocolonialismo ou de
colonização interna. A subalternização das classes baixas ocorre no ato da
colonização, como o mito da modernidade. Porém antes devemos ver o mecanismo de
dominação da classe dirigente ou da elite: a hegemonia.
A hegemonia não é
imposta como se prevê, mas algo aceito espontaneamente, diretamente das classes
dominantes para as massas. O consenso é histórico e vem do prestígio e da
confiança que adquiriu na implantação do mundo da produção. O aparelho do
Estado assegura legalmente a dominação por meio de repressão aos que não
consentem (GRAMSCI, 2001 p. 21).
A modernidade traz
uma nova forma de ver o Outro. Para Dussel (1993) a modernidade nasce quando o
europeu se vê como portador do direito sobre o Outro, além disso, justifica a
violência é justificada pelo mito da modernidade onde o conquistador define sua
cultura como superior, mais desenvolvida, o vencido é o bárbaro, inferior,
rude, subdesenvolvida, imatura, culpável. A violência empregada na conquista
foi necessária, para emancipar, tem utilidade de civilizar de trazer a
modernidade. O mito da modernidade é vitimar o inocente, culpando-o por isso e
o sofrimento é o preço por se modernizar. “Segue-se a mesma lógica na Conquista
da América como na Guerra do Golfo” (DUSSEL, 1993, p. 76).
O que assistimos
hoje, o processo de globalização, o capitalismo levado às últimas
consequências, a colonização interna, são, como vimos, frutos da colonização
das americanas. Para fundamentar esse processo foi necessário construir o
sistema de raças, expressão máxima do pensamento colonial e altamente
hegemônico. Somente compreendendo esse fenômeno conseguimos entender a
colonialidade do poder (QUIJANO, 2000, p. 201) e consequentemente do saber.
Mbembe completa: “o nascimento da questão de raça – e, portanto, do Negro –
está ligado à história do capitalismo” (MBEMBE, 2014, p. 299).
A ideia de raça,
associada com a natureza do trabalho exercido, forjam o novo conceito de
identidade. Sendo imposta uma rigorosa divisão racial do trabalho (QUIJANO,
2000, p. 204). Podendo caracterizar cada raça com um determinado trabalho.
Assim, a dominação de uma forma específica de trabalho, representava uma forma
de dominação de uma raça. “Lo cual, hasta ahora, ha sido excepcionalmente exitoso” (QUIJANO, 2000, p.
205). Para
a fornalha capitalista funcionar é necessário a queima de corpos, estes corpos
são provenientes da racialização dos seres. Dito de outra forma, para o
capitalismo explorar os recursos do planeta é preciso, sempre, do subsídio
racial (MBEMBE, 2014, p. 299).
3
OS INTELECTUAIS COLONIZADOS
Os intelectuais têm
função impressionável na sociedade, tanto para reforçar ou descortinar a
dominação. Gramsci dedicou muitos de seus cadernos e escritos a falar sobre o
intelectual. Para ele os intelectuais são os preferidos do grupo dominante para
exercer a função da hegemonia social (GRAMSCI, 2001, p. 21). No seio de cada
grupo social é criado um grupo de intelectuais com a função de tornar homogenia
e consciente de suas funções, “não apenas no campo econômico, mas também no
social e político” (GRAMSCI, 2001, p. 15).
Toda a ação
descolonizadora necessita de um estopim. Franz Fanon, Memmi, Déves-Valdés,
Said, todos intelectuais que participam ativamente da descolonização. Toda a
ocultação histórica é perversa porque esconde o passado e diminui os feitos do
povo, esta é uma guerra de desinformação. O intelectual que não pretende manter
o pacto colonial e pretende desvelar a hegemonia das classes dominantes, deve
aderir a luta da informação, onde o professor tem o papel fundamental de levar
a produção intelectual dos autores autóctones que contribuam para o crescimento
intelectual e descolonizante.
A colonização do
saber é atrelada à intelectualidade colonizada, reproduzindo discursos
eurocentristas e quando produz conhecimento nacional, está carregado dos velhos
preconceitos e da visão internamente colonizada. Franz Fanon concede sua
perspectiva sobre o fenômeno, explica como e porque o intelectual colonizado
tenta fazer esse resgate a suas culturas:
“inconscientemente
talvez os intelectuais colonizados não podendo enamorar-se da história atual de
seu povo oprimido, não podendo admirar sua presente barbárie, deliberaram ir
mais longe, mais fundo, e foi com alegria excepcional que descobriram que o
passado não era ~e vergonha mas de dignidade, de glória e de solenidade
reivindicação de uma cultura nacional passada não reabilita apenas; 'em
verdade' justifica uma cultura nacional futura.” (FANON, 1968, p. 175)
Conclui o autor:
“Ao colonialismo não
basta encerrar o povo em suas malhas, esvaziar o cérebro colonizado de toda
forma e todo conteúdo. Por uma espécie de perversão da lógica, êle (SIC) se
orienta para o passado do povo oprimido, deforma-o, desfigura-o. aniquila-o.
Essa tarefa de desvalorização da história do período anterior à colonização
adquire hoje sua significação dialética.”
(FANON, 1968, p. 175)
O intelectual
mergulhará no mundo do seu povo, mas não somente na nacionalidade, o golpe deve
ser dado a nível continental. Devido ao colonizador nivelar todos os indivíduos
pela cor de sua pele, desconsidera as peculiaridades de cada povo, de cada
nação. Na África todo negro era negro, não era angolano ou senegalês, era
negro! (FANON, 1968, p. 176). Assim como para o colonizador da América Latina,
todo indígena era indígena, seja Mexica, Guarani Mbya ou Olmeca. O mesmo ocorre
na colonização interna. Para a elite ou classe dirigente existe a tendência a
considerar todos como inferiores, iguais, com cultura sem valor, feia, pobres.
A história desvelada,
não é aquela onde citamos os agentes históricos. Antes disso, é realmente seu
papel na história. Usamos o exemplo de Dussel: “Os povos e etnias indígenas
americanas não entram na história mundial como contexto do descobrimento da
América [...]” (DUSSEL, 1993, p.90) aparecem como parte da paisagem, não como
atores, com suas convicções, ações, resistência e interesses. Sartre diria: “Las masas de Pekín y ele Shanghai no hacen
la Historia; la sufren.” (SARTRE, 1965, p. 16).
A ocultação da
história é a forma corrente com a classe dominante controla e mantém sua
hegemonia. Completa
Chesneaux: “El aparato del estado trata de controlar el pasado, al nivel de la
politica práctica y al nivel de la ideologia, a la vez.” (CHESNEAUX,
1981, p. 29). O Estado, consequentemente a classe dominante, utiliza o poder do
passado em forma de tradição para legitimar sua posição. Manipula elementos
culturais envoltas no seu princípio de dominação (CHESNEAUX, 1981, p. 30).
Entretanto, para os professores, o que mais interessa no livro de Jean
Chesneaux é a forma com em que trata sobre a manipulação implícita:
“As veces también la utilización del pasado es menos directa, menos
explícita. Si se llama a la historia em defensa del orden estabelecido y de los
intereses de las clases dirigentes, es por el rodeo de la ideología difusa:
manales escolares, filmes y television, imaginería […]” (CHESNEAUX,
1981, p. 31)
Ou seja, não podemos
ser inocentes ao tratar da história, devemos ser críticos, lembrando de Zizek
quado ele define ideologia: “"Ideologia" pode designar qualquer coisa
[…] desde o meio essencial em que os indivíduos vivenciam suas relações com uma
estrutura social até as ideias falsas que legitimam um poder político
dominante.” (ZIZEK, 1996, p. 7). Assim, todo o projeto social atual está
envolto na camada ideológica da classe dominante, para, acima de tudo, manter a
classe baixa, baixa e a classe dirigente no poder.
4
CIRCULAÇÃO DE IDEIAS E VALORIZAÇÃO DOS INTELECTUAIS DO SUL
A circulação de
ideias, exemplificada por Déves-Valdés, como a sinergia gerada entre diversos
agentes intelectuais, é pressuposto para a descolonização do saber
(DÉVES-VALDÉS, 2010, p. 142). Insiste, em suas obras a importância da
circulação de ideias para as redes intelectuais. Na visão do autor as Redes
Intelectuais são canais privilegiados através das quais as ideias circulam e da
qual os intelectuais atuam, potencializando o empoderamento destas
intelectualidades. (DÉVES-VALDÉS, 2010, p. 123).
Assim, os
intelectuais do sul, aqueles que agregam peso ao movimento de descolonização do
saber, podem facilmente serem lidos e estudados nos centros intelectuais.
Através das Exportações Eidéticas, que é o canal que transporta as ideias, como
livros e revistas, estas ideias poderiam ser incorporadas no pensamento de
pessoas de outras regiões (DÉVES-VALDÉS, 2010).
Esse movimento é
capaz de trazer impulso para ações voltadas a descolonização do saber ou dos
corpos. O próprio Professor Mbembe fala do pensamento que há-devir, “[…] um
pesamento da vida, de reserva da vida, do que terá de escapar ao sacrifício.
Deve ser um pensamento em circulação, um pensamento em movimento, um
pensamento-mundo” (MBEMBE, 2014, p. 300). Universidades, centros de estudos,
grupo de trabalhos, assim como qualquer comunidade que passe por um processo ou
queira descolonizar-se contaria com a vasta rede da circulação das ideias.
Entrando em contato com universidades, por exemplo, do Chile, pioneiro nos
estudos da decoloneidade, ter estudos da vanguarda no assunto. Podem, através
das Redes Intelectuais, adquirir experiências na educação descolonizadora. Ao
mesmo tempo que tem acesso à vanguarda do pensamento pós-colonial nas
Universidades de Gana ou Camarões.
O uso das Redes
Intelectuais através da circulação das ideias, tem a função básica de
transmitir o conhecimento produzido por intelectuais do Sul – conhecedores da
causa e da decoloneidade. Para os propósitos de descolonização do saber é
imprescindível a valorização dos intelectuais do Sul. A manifestação, através
de iniciativas e movimentos de globalização contra-hegemônica é o que
Boaventura (2009) chama de Cosmopolitismo Subalterno. Para o autor faz parte de
uma rede extensas e de movimentos contra a exclusão social, política e cultural
(SANTOS, 2009, p. 180). Citado como exemplo por Boaventura, o Fórum Social
Mundial seria um movimento de cosmopolitismo subalterno ou na teoria de
Déves-Valdés, exportação eidética, formando uma rede intelectual.
O cosmopolitismo
subalterno, como movimento, defende o entendimento do mundo fora da lógica
ocidental, de que o conhecimento não é global como a própria globalização.
Assim, muitos conhecimentos além do ocidental foram identificados e uma
infinidade de outros conhecimentos estão para serem descobertos.
A epistemologia do
mundo, para ser mais preciso, epistemologia não ocidental, só será construída
partindo de intelectuais do Sul. Pois, a diversidade requerida pra seu
desenvolvimento não partirá do ocidente, mas sim, partindo do Sul. Assim como
Chakrabarty (1992) revela que há a constante necessidade de utilizar escritores
europeus para analisar, explicar ou basear as sociedades periféricas, devemos
fugir dessa lógica e buscar a epistemologia do Sul. Analisada e discutida
dentro de nosso sistema social, por nossos intelectuais. Não esquecer ou
desvalorizar o conhecimento produzido por milênios de conhecimento europeu.
Mas, acima de tudo, apenas complementar o nosso conhecimento.
REFERÊNCIAS
Rafael
Noschang Buzzo – Pós-graduando em História e Cultura
Afro-brasileira – rnbuzzo@gmail.com - http://lattes.cnpq.br/1380326098437307
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Olá, Rafael Buzzo. Tudo bem?
ResponderExcluirGostaria de parabenizar a comunicação. Considero uma discussão muitíssimo interessante e pertinente.
Tenho um questionamento: Entre as suas referências bibliográficas constam autores naturais dos chamados Países Centrais (ou 'Primeiro Mundo'), assim como o excelente Achille Mbembe, natural de Camarões. Gostaria de saber se você percebeu algum tipo de diferença, ideológica ou mesmo cultural, na abordagem do tema por parte desses autores.
Obrigado.
John Kennedy Ferreira da Luz
Bom dia Caro Kennedy. Pertinente questionamento, porque levanta outras questões referente aos intelectuais e sua importância para os intelectuais do Sul.
ExcluirProcuro em meus artigos, utilizar sempre intelectuais do Sul, como Mbembe, N’Krumah, Said, Spivak, Déves-Valdés, Casanova, etc. Porém, existem intelectuais como Jean Chesneaux ou Prost que tem trabalhos fundamentais para a concepção de teorias e de entendimento de conceitos básicos para a discussão pós-colonial ou mesmo decolonial. Para elaborar o conceito de necropolítica, Mbembe utiliza o conceito de biopoder de Michel Foucault. Para compreender certos conceitos, necessitamos ler os centrais, principalmente para fazer uma leitura partindo do Sul, adaptando a teoria para nossa realidade.
A presença colonial interfere, irremediavelmente, na forma de ver o fenômeno. Por isso, é impossível um autor dos países de “primeiro mundo” compreender o que vive um indivíduo dos países colonizados. Existem diferenças culturais e ideológicas dos próprios intelectuais periféricos, para exemplificar, cito a grande diferença nas vertentes pós-coloniais, decoloniais e estudos subalternos. Estes possibilitam uma compreensão do fenômeno dentro de seu quadro teórico e cultural. Muitas vezes utilizo, em outros artigos, intelectuais portugueses, a compreensão da colonização destes autores é uma visão de forasteiro, não de alguém que vive a pressão colonial, arrisco a dizer que sempre haverá a questão ideológica, partindo do lugar de fala.
Obrigado pela excelente pergunta, espero que tenha respondido seu questionamento.
Rafael Noschang Buzzo
ExcluirPerfeitamente, Rafael. Muito obrigado pela atenção e, mais uma vez, parabéns pelo trabalho.
ExcluirJohn Kennedy Ferreira da Luz
Muito boa sua comunicação, realmente pertinente o assunto, parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirTenho apenas algumas dúvidas
Os conceitos de necropoder e necrópole tica foram criados por Mbembe, ou por outro autor? E poderia explicar um pouco mais sobre a necropolitica.
Obrigado.
Cristian Warley de Freitas Pereira
Olá caro Cristian. Boa noite, sua pergunta é muito relevante.
ExcluirNecropoder é um conceito, relativamente, novo, cunhado por Achille Mbembe. Necrópole é uma palavra de origem grega “cidade dos mortos”. Mas acredito que talvez a expressão que você tenha usado não seja esta. Fico a disposição para discutir sobre outro termo, caso não seja este.
Necropolítica é a política de morte, seria as políticas empregadas pelo Estado que encarnam o poder de quem vive e quem morre. Por exemplo, as políticas de violência adotadas para determinada parcela da população - Mbembe utiliza o exemplo do apartheid. Foucault cunha o termo biopoder, política de vida, e Mbembe cria o termo, necropolítia, como o poder de promover a morte.
Acredito que o termo possa ser melhor compreendido e ler o artigo de Mbembe, disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993
Espero ter ajudado.
Grato,
Rafael Noschang Buzzo