HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO
 Nikolas Corrent

Resumo: A memória desempenha um papel vital na formação e manutenção do próprio passado e do passado coletivo de um povo ou nação. A memória, infelizmente, é altamente suscetível a distorções e erro, por isso, torna-se importante entender como a memória pode transformar o que "estava" em o que "parecia ser" para entender como os erros de memória podem se infiltrar e moldar a história pessoal e coletiva. Neste texto, exploramos como e por que a memória tende a distorcer o passado. Essas distorções são uma consequência natural de nossas tentativas de reconstruir experiências. Com reconstrução vem a distorção. Durante a revisão historiográfica, descreve-se algumas das maneiras pelas quais se concebem a memória e as formas em que a memória opera, então discute-se várias técnicas que foram usadas para distorcer a memória para experiências pessoais. Argumenta-se que os mecanismos responsáveis pela formação de memórias também podem estar por trás da criação de falsas memórias históricas.

Palavras-chave: História oral. Memória. Coletividade. História.

1 INTRODUÇÃO

As fontes vão se anquilosando por seu uso na reconstrução, reinterpretação e reescrita da história. Conceber a interpretação histórica como um processo dinâmico nos leva a trabalhar com novas fontes. Esses novos tipos de fontes, dentre os quais os podem ser os testemunhos de depoentes, dão a possibilidade de conhecer antigas tradições ou costumes das gerações anteriores, mas acima de tudo, os novos tipos de fontes, aproximam-nos dos setores sociais que não estavam inseridos na coleção documental.

Pegando o que foi exposto pode-se dizer que as vozes desses assuntos, às vezes relegados em busca de uma história construída de cima, trazem certos espaços de natureza privada, "as esferas ocultas". Essas esferas, que de outra forma seriam fechadas a qualquer tipo de pesquisa científica, oferecem uma nova visão dos diferentes e imaginários espaços das sociedades. Também pode-se saber como a vida de uma pessoa influencia o que é narrado. (THOMPSON, 1992).

Do campo da disciplina da História, o que se pretende é trazer uma parte do todo que supõem os estudos da memória na atualidade: os depoimentos, como um dos elementos formadores de memória, estudados no campo da História Oral. Por causa de sua capacidade de recorrer à memória e experiência para abordar a vida cotidiana e formas de vida não registrado, tornou-se uma categoria importante para tais estudos.

A História Oral incorpora o propósito social da história ao introduzir novas evidências é expandir os "dados históricos" da coleção de documentários e abrir novas áreas de pesquisa para que as outras fontes não consigam alcançar. Mas também a história oral recebeu uma forte crítica, com base na subjetividade da fonte, uma vez que ela é criada no processo de interação entre pesquisador e protagonista, mediando cada um deles por uma série de fatores e influências, visto que o nível de espontaneidade dos depoimentos que varia de acordo com a carga emocional de conteúdo.

Dado o problema da subjetividade das fontes, o historiador desce às fundações da experiência humana para introduzir a variável "significado" em sua análise e  refletir sobre o que influencia ou afeta cada sujeito quando se trata de narrar seu testemunho e se isso está diretamente relacionado com a capacidade da memória de se tornar uma memória testemunhada e lembrar-se de outro problema relacionado à história oral e suas fontes tem sido o da narração, isto é, ficar com isso narrado pelos protagonistas sem fazer qualquer análise crítica ou compreensão do contexto.

2 HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA

A história oral foi amplamente utilizada na Inglaterra na década de 1960 para trabalhar em questões relacionadas com a história dos trabalhadores e novos movimentos sociais.  O objetivo era dar voz àqueles sem voz, àqueles marginalizados pela historiografia tradicional.  

Identifica-se entre os problemas mais frequentes da história oral em técnica de pesquisa as particularidades do processo de entrevista, o papel do pesquisador, o elo passado/presente, o entrevistado e sua percepção sobre quem faz a entrevista (a quem o entrevistado fala?) e, finalmente, o claro estabelecimento dos objetivos da entrevista.

Na história da vida, a história oral, é testemunho de uma realidade distante em tempo e espaço, quando é registrado adquire valor documental, torna-se objeto de estudo e interpretação. A memória coletiva é o produto de um processo de estrutura social pela qual o significado é construído em relação ao passado e presente de cada sociedade. É ao mesmo tempo um elemento constitutivo e essencial da identidade de uma pessoa e um grupo social.

“A memória é uma construção social do significado do passado que se baseia lembre-se, é o ato e a capacidade dos sujeitos de se lembrarem; É então um discurso que nem sempre segue uma ordem cronológica, mas sim regras subjetivas em relação à temporalidade onde os atores, ao lembrar saltam de um período para outro sem mediação ou causalidade linear.” (LE GOFF, 1996, p. 98).

Diferentes interpretações sociais do passado podem se tornar uma razão para um conflito e debate. Datas e aniversários funcionam como ativadores de memória; neles os fatos reordenar ou estragar o que estabeleceu-se, as vozes das novas gerações questionam e repensam as histórias orais, gerando novas visões sobre o que foi dito e o que foi omitido.

Por outro lado, monumentos e lembretes, se tornam espaços de luta política e pública atualmente; esse é o caso, por exemplo, dos órgãos de direitos de seres humanos e diferentes organizações sociais quando geram atividades diversificadas, desde publicações na mídia impressa até propostas de nomenclaturas de ruas e praças.

Outras formas de intervir na memória são as instâncias de destruição da materialidade da memória (monumentos, por exemplo) como tentativas de destruir a própria memória, para apagar as marcas do passado.

 “Não há articulação do social que é de uma vez por todas, nem na superfície, ou em profundidade [...] que está articulação, tanto em termos diz respeito às partes que possui, bem como às relações que estabelece entre os partidos e entre eles e o todo, é a todo momento uma criação da sociedade em pergunta. A sociedade é estabelecida como modo e tipo de convivência.” (HALBWACHS, 2003, p. 101).

Por causa disso, a memória coletiva é um meio de construir história oral, contribuindo para a historiografia como fonte de história. Neste sentido, como dito acima, todo testemunho oral traz um fardo emocional e sensível que depende do modo como a memória foi alojada na memória, para a qual, recordando a memória de volta ao presente, ela pode ser feita de diferentes  maneiras e cada pessoa em sua memória individual vai lembrar o evento ou o feito de uma maneira diferente.

 No entanto, o fato, como tal, não muda, apenas modifica o que significa que dá quem se lembra. Então, uma primeira conclusão é que a interpretação desses fatos, através da "purificação" da memória e da busca por pontos comuns nas memórias individuais permite construir uma visão generalizada de vários eventos que poderiam dar origem a uma memória coletiva.

Pelo exposto, para que a coleção de memórias possa efetivamente tornam-se fontes para a história oral, o papel do entrevistador é vital importância, já que é ele quem, através da interação com o outro em um momento e espaço definido, conseguirá que o assunto "rememore".

Nesse sentido, para alcançar uma coleção de memórias, devemos levar em conta os quadros de memória proposta por Halbwachs, que nos permitiu articular o tipo de perguntas a serem feitas aos entrevistados, em primeira instância.

Finalmente, esta ordenação de memórias permite então construir a história oral, como é realizado na investigação do bairro. Para isso é necessário não apenas limpar as memórias, mas também confiar em estruturas sociais, aspectos temporais e espaciais da memória.

A História Oral busca criar novos registros documentários que permitam construir uma nova forma de historiografia baseada em pesquisa de campo. Nesse sentido, a história oral realiza uma busca e compilação das histórias (narrativas), geralmente a partir da pessoa comum ou da classe popular, pois são essas pessoas que, na maioria das vezes, não possuem documentos escritos ou não são mencionados nos documentos que o historiador usa como fonte. Daí deriva a importância desta compilação, pois compõe uma história articulada em um processo narrativo, de igual caminho em uma fonte adequada para o trabalho do historiador.

Atualmente, o interesse que a história oral despertou influenciou seu tempo, em novas possibilidades de história social e conseguiu influenciar a multidisciplinaridade da história, relacionadas a outras ciências sociais, como geografia, antropologia cultural, sociologia, entre outros. (HALBWACHS, 2003).

O sucesso da história oral é que por meio de um procedimento adicionado ao método utilizado na história, é possível estudar comunidades que pensaram sem história, comunidades com declarações orais que não criam documentos escritos ou comunidades que perderam seus documentos escritos e que, no entanto, são ricas em oralidade, no conhecimento do espaço, tradições, festivais, costumes, mitos e rituais e que têm conseguido transferir sua memória de geração em geração para não ser esquecido.

Fundamentalmente, a importância de usar esse procedimento na historiografia, é que permitiu estudar comunidades que não foram consideradas anteriormente como objetos de estudo por falta de documentos escritos (formais).

Na relação do historiador com os testemunhos orais, que sendo apenas uma compilação generosa, pode ser que muitas vezes, no final de uma investigação, não terá nenhum resultado concreto ou detalhado, mas isso não significa que as fontes são menos válidas, como foi feito para pensar.

“Mas a importância do trabalho de campo na história oral está relacionada à existência da possibilidade de recuperação da tradição oral, que às vezes é considerada extinta e muitas outras vezes é criada onde a palavra escrita existe já esta tradição, tem a possibilidade de aplicar crítica histórica para a interpretação desses dados.”(THOMPSON, 1992, p. 46).

Em outras palavras, o trabalho com os testemunhos orais tornou possível o conhecimento de períodos históricos em que fontes escritas são escassas e, em alguns casos, inexistente, transformando os fatos em fontes para o historiador.

Dentro das dificuldades que existem no trabalho com fontes de tipo oral, pode-se mencionar o problema da confiabilidade da fonte e seu caráter de objetividade. Nesse sentido, Bossi (1994), ressalta que esse não é um problema exclusivo da história oral, é apresentado em qualquer fonte consultada, para qualquer forma de história.

Nesse sentido, Thompson (1992) considera que a memória da vida em geral de uma pessoa ou informante (como ele será chamado a partir de agora) a partir de sua própria perspectiva dentro do que ele considera importante, gera uma história e, em consequência, o documento mais confiável que pode ser encontrado, já que memórias trazem com detalhes que não podem ser encontrados de outra forma e permitir a construção de histórias em pequena escala. (ALBERTI, 2004).

De acordo com isto, é importante para a compreensão da metodologia usada para a construção de uma história oral, a partir do resgate da memória coletiva definindo o conceito de "Memória", dando sentido a pesquisa.

Para mergulhar neste assunto, para finalmente entender o que é memória individual e o que é memória coletiva, a primeira coisa é explicar a noção de memória do que é lembrado e a quem está memória pertence.

Bossi (1994), explica que os gregos tinham duas palavras para se referir a "memória", "mneme" e "anamnesis", para designar a memória e o exercício de recordar a memória, respectivamente. Seguindo esta explicação simples, pode-se dizer que há uma imagem do passado, que é chamado como uma memória e um exercício pessoal que é lembrar, em que a memória de cada um é usada para "lembrar-se", isto é, ter uma memória de si mesmo.

Explana-se que a pessoa explica os eventos e suas ações neles, a partir da maneira pela qual se percebe no território e em sua sociedade. Então, voltando para os limites de amplitude e precisão que foram definidos como o limite entre a memória e esquecimento, pode-se afirmar que, por um lado, a dificuldade de amplitude tem relação com o âmbito da temporalidade e da espacialidade e, por outro lado, na precisão, influencia a profundidade da memória e a clareza de sua representação, típica da capacidade humana de "lembrar". (ALBERTI, 2004).

Por mais desencorajador que a tarefa de colecionar a memória possa parecer, existem alguns elementos que atuam como facilitadores da memória, que necessitasse levar em consideração ao projetar uma metodologia para abordar a construção de uma história oral.

Neste trabalho, a memória pode ser feliz, ou dolorosa, no entanto, se o entrevistador estimular a memória ele consegue "reviver" a experiência, pode superar ou marginalizar experiências dolorosas. (THOMPSON, 1992).

3 HISTORIADOR, DEPOENTE E MEMÓRIA: UM TRIPÉ ESSENCIAL

De qualquer forma, o entrevistador tem uma tarefa de importância vital, uma vez que o assunto lembra pela interação com o outro.

 Nesse sentido, propõe-se que, para "lembrar-se", é necessário ter a opinião dos outros, isto é, as pessoas não se lembram sozinhas, e a partir dessa ideia é possível dizer que lembrar uma única pessoa é um ponto de vista da memória coletiva. Então o "outro" não é apenas um facilitador de memória, mas age como uma estrutura social para ela.

“Além disso, deve ser entendido que a estrutura para memória, além de ser social, é também espacial e temporal, de modo que a memória será modificada pelos contextos espaciais e temporais em que o sujeito está inserido.” (HALBWACHS, 2003, p. 100).

Outrossim, a memória individual que utiliza os quadros sociais de memória, "é apenas uma parte e um aspecto da memória do grupo", que é preservado como memórias quando ligado as mídias sociais, uma vez que os quadros de memória são conhecidos, é possível entender como a memória individual se torna uma memória coletiva, para poder entender de que forma de memória pode ser um meio para a construção da história oral.

Nesse sentido, a memória coletiva não é composta apenas da purificação e ordenação de histórias individuais, mas na busca de um terreno comum para a inter-relação das memórias, levando em consideração as emoções e formas de lembrar-se, uma vez que é isso que dá o quadro social da memória em que a lembrança era possível.

O uso de histórias orais e a transmissão da memória histórica é tão antiga como o homem, no entanto, aparece como instrumento de pesquisa de historiadores, etnólogos, antropólogos e sociólogos da segunda metade do século XX.

Embora possa ser dito que é difícil através da história oral poder reconstruir os eventos históricos concretos (exceto em casos que são as únicas fontes de informação sobre um período histórico) constitui uma documentação inestimável na reconstrução da atmosfera, ambiente de eventos, subjetividade, práxis individual e coletiva de um grupo social.

Ao trabalhar com histórias orais, estas nem sempre são coincidem com as diferentes "visões" dos que testemunharam um fato do passado. Quando se investiga sobre a vida cotidiana de uma sociedade pode-se encontrar versões dissimilar e até o oposto do mesmo fato histórico. Ao ouvir de uma pessoa um conto, lenda ou simplesmente “determinada” versão em um determinado assunto encontra-se antes de um caso único de interpretação histórica, já que "aquele" momento de diálogo é irrepetível. Entende-se que no caso da história oral a fonte é construída pelo mesmo pesquisador o material obtido das entrevistas que devem ser corroborados com outros documentos da época, na medida em que existam.

A riqueza inegável das fontes de declarações orais é que em numerosas ocasiões elas revelam fatos ou aspectos desconhecidos ignorados sobre fatos desconhecidos para certos grupos populacionais ou para regiões que não é possível investigar através da documentação existente na história tradicional.

Porque a memória está envolvida em um processo de seleção, o inconsciente determina o que devesse lembrar e o que devesse reprimir. Para o pesquisador é tão importante o que é lembrado como o que não é lembrado.  A ausência não pode ser interpretada como um esquecimento ou como uma deficiência e a memória de simples reprodução da realidade passada. Portanto, é que os “erros" das fontes orais fazem parte do material histórico, os dados fornecidos por um informante não coincidem com os documentos escritos da época, eles têm valor como uma fonte documental na medida que se referem a interpretações pessoais da realidade histórica que se relaciona.

Esta metodologia de trabalho incorpora a história da cultura para todos os homens, independentemente da condição social a que pertencem, ou a extensão pública de suas ações. Eles interessam como sujeitos protagonistas da manutenção ou transformação de ordem sociocultural que caracteriza um tempo histórico determinado.

As fontes construídas através do método da pesquisa da História Oral são significativas para a comunidade, uma vez que se referem aos seus próprios assuntos, comuns e próximos. Outro valor que eles adquirem é o fato de ser relevante porque se referem ao conhecimento de eventos e processos sociais que fazem parte da vida cotidiana.

A capacidade de transmissão do intangível, os espaços onde alguns destes são desenvolvidos, manifestações, conhecimento sobre técnicas desaparecem ou caem em desuso devido à incorporação de novos, caem no esquecimento por causa das transformações que vão surgindo nas sociedades. Isso é mais frequente naquelas comunidades cujos membros migram para outros espaços por razões (voluntárias ou não) de trabalho, estudo, exílio.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas do século XX, juntamente com a maior complexidade do conhecimento, as ciências sociais têm sido caracterizadas por numerosas perguntas para seus problemas de pesquisa. Os diferentes campos de disciplinadores devem refletir novamente sobre suas questões centrais, responder a novas perguntas.

A história que depende da memória pode não ser melhor do que a memória em que se baseia. Porque a história oral depende quase exclusivamente na memória, pode-se argumentar que a história oral serve para reiterar o que é, melhor, uma lembrança distorcida do passado.

Corresponde também à leitura atual do tema, assumindo a perspectiva ética para elucidar o problema e, assim, fornecer critérios para  reflexão sobre a relação de conflito levantada entre os diferentes setores  sociais que convergem no estudo de recursos materiais e culturais  simbólico no contexto. O uso de histórias orais no registro da memória e na identificação das diferentes formas de identidade que constituem o patrimônio cultural deve prestar atenção a esta problemática.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Mestrando do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Graduado em Filosofia Licenciatura (2018) pelo Centro Universitário de Araras “Dr. Edmundo Ulson” (UNAR), História Licenciatura (2016) pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e Ciências Sociais Licenciatura (2015) pela Faculdade Guarapuava (FG). Especialista em Docência do Ensino Superior (2018) e Educação a Distância com Ênfase na Formação de Tutores (2018) pela Faculdade São Braz (FSB); Educação do Campo (2017) pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras (FACEL); Educação Especial e Inclusiva (2016), Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia (2016) e Ensino Religioso (2015) pela Faculdade de Educação São Luís (FESL). Participante do grupo de pesquisa de Estudos em História Cultural da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Professor de Sociologia contratado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná e leciona as disciplinas de Filosofia, História e Sociologia no Colégio Imaculada Virgem Maria e Sociologia no Colégio São José. Tem experiência nas áreas de Ensino Religioso, Filosofia, História e Sociologia.

ALBERTI, V. Ouvir contar textos em história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

ALBERTI, V. Manual de história oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

FERREIRA, M. de M.; AMADO J. (Orgs.) Usos e abusos da história oral. 8 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2003.

LE GOFF, J. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1996.

THOMPSON, P. A voz do passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

21 comentários:

  1. Boa tarde, Nikolas Corrent!

    Gostei do seu texto. É uma ótima reflexão acerca da memória.
    Gostaria de saber o que você acha acerca do entrecruzamento de fontes. Isso poderia resolver, em partes, o problema do relato oral e as falsas memórias?

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    1. Bom dia, Jeferson.
      Sim, acredito que o cruzamento de fontes propicia uma análise minuciosa dos relatos orais e descontrói falsas memórias.
      Penso que a entrevista de história oral nunca pode ser tratada de forma isolada, essa intersecção com outras fontes históricas as quais questionam, estabelecem problemas e contradições, que procuram soluções, que veem alternativas, que consultam documentos, é essencial para a conquista de narrativas históricas plausíveis.
      Por fim, vejo que há uma grande importância do cruzamento dos dados provenientes de fontes diversificadas para reduzir o nosso grau de incerteza.
      Até breve.

      Comentário de: Nikolas Corrent

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    2. Comentário: Jeferson do Nascimento Machado.

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  2. Olá Nikolas!
    Devo salientar que gostei bastante do seu artigo e por meio dele tive contato com novas ideias acerca da História Oral muito produtivas. Uma dúvida que surgiu em relação ao tema é a seguinte: Em sua obra você descreve a importância que a memória tem para a História Oral, sendo sua principal fonte, lhe questiono qual método o historiador deve utilizar para selecionar os relatos que realmente lhe permitam reconstruir a história do período que está analisando, separando-os de fatos que possam ter sido distorcidos por fatores pessoais dos depoentes.
    Nildo Doval Moutim

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    1. Bom dia, Nildo.
      Primeiramente, divirjo de você no instante em que você considera que o trabalho do historiador é “reconstruir a história do período que está analisando”, visto que as (re)memorações obtidas através da História Oral estão inseridas no tempo presente. Dessa maneira, em meu ponto de vista é um equívoco considerá-la como o resgate ou reconstrução de um período ou até mesmo do passado.
      A História Oral é considerada o registro da história de vida de pessoas que focalizam suas memórias pessoais, as quais durante a entrevista acabam construindo uma visão concreta e subjetiva acerca do objeto e tema estudado. Há várias críticas quanto ao uso da História Oral, e uma delas é essa citada por você, pois a memória pode ser distorcida e até mesmo influenciada por versões coletivas. É válido lembrar que a História Oral não veio para suprir as fontes formais/documentais, e ambas são subjetivas, pois as fontes documentais escritas não são menos seletivas ou menos tendenciosas do que as Orais.
      Acredito que cabe ao pesquisador/historiador buscar encontrar esses detalhes, tais como o desenrolar de emoções no decorrer da entrevista, o silenciamento de assuntos trágicos ou que provocam dor e até mesmo a exaltação de si mesmo. Mas tudo isso também “fala”, também é importante para pesquisadores que fazem uso da História Oral uma análise minuciosa desses detalhes, vestígios ou indícios.

      Abraço,
      Excelente semana de estudos.

      Comentário de: Nikolas Corrent

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    2. Olá, Nikolas!

      Seu texto e as discussões teóricas em torno da História Oral em certa medida problematizam a ideia de "veracidade", "confiabilidade", no método. No entanto, você traz nesse comentário uma importante pista / provocação da posição social dos informantes / sujeitos históricos no quadro da estrutura social, o que obviamente reflete em experiências, vivências, sentidos diferentes sobre determinados fatos.

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    3. Heron, boa tarde.
      Sim, com certeza, pois a História Oral está inserida no tempo presente.

      Obrigado pelas contribuições.

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  3. Olá boa noite, a temática é bem interessante, mas gostaria de informações para introdução de história oral na sala de aula. Como trabalhar com o que não é documental à cerca do que foi passado pelos antepassados dos educandos do local das aulas? Como usar a história oral da região, dentro da sala de aula?
    Desde já agradeço atenção
    Att; Mariane Martins de Sant Anna.

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    1. Bom dia, Mariane.
      Muito interessante em sua pergunta a dicotomia expressa por você entre documento versus oralidade.
      Quando se faz uso da História Oral é necessário ter o olhar mais cauteloso e sensível a algumas especificidades, sem as quais, não se faz história oral.
      Penso que diante da prática escolar, se torna interessante definir uma problemática inicial e fazer com que os discentes busquem junto a comunidade pessoas que contribuam oralmente com a dúvida apresentada.
      Abraço,
      Excelente semana de estudos.

      Comentário de: Nikolas Corrent

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  4. Boa noite, Nikolas!
    Parabéns pelo seu texto, uma leitura agradável e esclarece muito sobre a relevância do uso da história oral. Gostaria de saber como se deu a seleção dos entrevistados?
    Alessandro Portelli no texto O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944): mito e política, luto e senso comum, traz uma discussão sobre a memória dividida dos entrevistados em relação ao mesmo fato vivenciado, vc observou algo semelhante no decorrer de seu trabalho?

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    1. Bom dia, Eliane.

      Nesse texto apresentado não fiz o uso de fontes orais, visto que se trata de uma discussão teórica acerca da Memória e História Oral.
      Além disso, no decorrer de minhas pesquisas que exigem metodologias da História Oral, procuro buscam pessoas relacionadas ao objeto de pesquisa e que vivam no cotidiano aquilo que pesquiso.
      Com relação a sua última pergunta: sim, é muito comum a existência de conflitos nas falas dos entrevistados, mas isso é essencial para que o historiador (des) construa questões que envolvem seu objeto de pesquisa, desenvolvendo assim uma História Crítica.

      Abraço,
      Até breve.

      Comentário de: Nikolas Corrent

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  5. Olá, Nikolas!
    Antes de qualquer coisa, parabéns pelo trabalho.
    Nikolas, eu costumo trabalhar com pesquisa na perspectiva da biografa e (auto)biografia, nesse sentido, Delory-Momberger* (2011) afirma que o movimento de biografização, se revela como um procedimento propício à formação do ser individual, visto que essa relação (biografar e formar-se) é legítima e privilegiada, pois foi no âmbito da formação que surgiu o princípio de “que ‘fazer sua história de vida’ – ou seja, construir uma narrativa de sua própria existência – podia, em certas condições, ter um efeito formador” (DELORY-MOMBERGER, 2011, p. 49).
    Qual relação entre a postulação de Delory-Momberger e a História Oral? Isto é: há possibilidade de identificar uma proximidade?

    Obrigado!
    Abraços!

    Antonio José de Souza

    * DELORY-MOMBERGER, C. Os desafios da pesquisa biográfica em educação. In: SOUZA, E. C. de (Org.). Memória, (auto)biografia e diversidade: questões de método e trabalho docente. Salvador: EDUFBA, 2011. p. 43-58.

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    1. Bom dia, Toni. Sim, é possível conquistar a aprendizagem histórica através de narrativas autobiográficas obtidas através da História Oral. São diversas as possibilidades de análise com fontes narrativas, (auto)biografias,
      memoriais etc. Há a entrevista de histórias de vida que é comumente usada por pesquisadores da História Oral para que haja essa construção da "narrativa de sua própria existência" tal como comenta Delory-Momberger.

      Bom evento!

      Comentário de: Nikolas Corrent

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  6. Boa noite Nikolas, o assunto de memória está fortemente ligado ao de imaginário sendo assim, gostaria de deixar aqui duas indicações para você, espero que possa te ajudar.
    As estruturas antropológicas do imaginário. - Gilbert Durand
    Imaginação Simbólica - Gilbert Durand

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    1. Bom dia, Thamyres.
      Obrigado pelas indicações!

      Comentário de: Nikolas Corrent

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  7. Paula Stefanni da Silva Pereira12 de dezembro de 2018 às 08:16

    Olá, Nikolas.
    Parabéns pelo texto. Excelente escrita, simples e objetiva.
    Minha questão fica sobre as mídias sociais que você cita na terceira parte. Quais são elas? Se você puder explicar um pouco mais também, não ficou-me muito claro a relação da memória individual e coletiva com as mídias sociais.
    Obrigada, Paula Stefanni.

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  8. Boa Noite Nikolas
    Parabéns pelo texto, achei bastante informativo e elucidante.
    Gostaria de fazer duas questões sobre o texto:

    1) Você fala muito sobre os desafios da História Oral para ser aceita como ferramenta de produção historiográfica no campo de pesquisas acadêmicas, e como ela se tornou mais presente a partir da segunda metade do século XX. Como você vê o estudo pela História Oral nos dias de hoje? É uma presença mais concreta nas pesquisas ou já sofreu uma decadência em questão de utilização?

    2) Se apoiando numa declaração de Bossi, você diz no texto que problemas de confiabilidade e objetividade não são exclusivos de História Oral. Você diria que, apesar de não serem exclusivos, eles estão mais presentes na História Oral por sua ligação com o uso da memória? Em quais aspectos esses tipos de problema se apresentam em outros tipos de fontes? Também estão ligados a memória?

    Obrigado pela atenção
    Lucas Almeida Fernandes

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  9. Olá Nikolas, excelente texto , bem elaborado e bem fundamentado. Minha pergunta é mais uma curiosidade que uma dúvida. Gostaria de saber seu posicionamento acerca do uso da história oral, tendo em vista que a mesma é uma ferramenta costumeiramente utilizada para dar voz aos "vencidos" , a setores marginalizados que não costumam ser agregados nas linhas tradicionais de estudo, quais cuidados o historiador deve tomar acerca desse ato de "dar voz" a esses setores, sem produzir um relato um tanto quanto enviesado? Desde já agradeço,
    Alaéverton Maicon de Andrade

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  10. Interessante o seu texto mais tenho duas duvidas:
    1) você pretende trabalhar a questão da historia oral em parcerias com outras fontes como, por exemplo a imprensa?
    2) Pretende apresentar um estudo de caso onde foi utilizado a historia oral?
    Obrigada,
    Ísis Paris Maia

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    1. Olá, Ísis.
      1) Sim, em minhas pesquisas analiso a história oral relacionando-a com fontes escritas.
      2) Sim, em minha pesquisa de mestrado faço uso da História Oral.

      Atenciosamente,
      Nikolas Corrent

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