IDENTIDADE E
CULTURA: A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO RITUAL INDÍGENA MENINO DO RANCHO
Yuri Franklin dos Santos Rodrigues
Considerações
Iniciais
O
papel feminino na comunidade indígena Jiripankó é diversificado, pois sua
participação nos processos de reafirmação identitária do grupo é marcante,
entende-se que tais práticas ocorrem através da realização dos rituais
sagrados. Suas funções variam desde uma singela presença em alguns
procedimentos ritualísticos a atuações maiores em outros.
O
evento alvo da investigação desse trabalho é o ritual denominado Menino do
Rancho, busca-se por meio dele fazer uma averiguação da participação feminina e
suas atribuições, tentando dessa forma fazer o leitor exercitar a capacidade de
observar os detalhes e personagens menos aparentes que fazem esse evento
sagrado e religioso.
Para
nossas observações tomarem corpo, foi realizada uma pesquisa de campo, nos
moldes da proposta por OLIVEIRA (2000), com observação participante, elaboração
de diário e caderno de campo e produção de fotografias e vídeos.
Sobre
a discussão das questões de gênero e protagonismo tratando-se de um trabalho
sobre mulheres decidiu-se seguir a concepção de Michel de Certeau (1982), ele
afirma que “antes de saber o que a história diz
de uma sociedade, é necessário saber como funciona dentro dela [...] ” (CERTEAU, 1982, p. 68) , com isso,
esse trabalho não propõe fazer qualquer reivindicação do protagonismo feminino
na aldeia, visto que, na sociedade onde a pesquisa vem sendo desenvolvida, o
comportamento de todos os participantes não indica a postura de divisão
de atores principais e secundários, pelo contrário, nota-se uma união de todo o
grupo em torno do ritual, para que dessa forma ocorra um momento de reafirmação
identitária e diálogo com o mundo encantado. As mulheres, juntos com os homens
são componentes do sistema ritualístico dos Jiripankó, cabendo a ambos
restrições e obrigações antes, durante e após os rituais.
Construção do
território Jiripankó: história e indivíduos
O
povo indígena Jiripankó habita no município de Pariconha, no Sertão de Alagoas.
A aldeia está a aproximadamente 6 km do centro da cidade. É uma sociedade
originária do tronco Pankararu do aldeamento de Brejo dos Padres que se
localiza entre os municípios de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, no sertão de
Pernambuco.
Sua
formação teve início com “o êxodo do índio José Antônio do Nascimento (Zé
Carapina) para a região de Alagoas em 1893, em decorrência da ocupação
territorial” (SANTOS, 2015, p. 10). Esse movimento se dá em virtude da lei de
terras de 1850, que devolvia às municipalidades todas as terras sem registro de
compra lavrado em cartório, com isso os territórios indígenas em todo o Brasil
e principalmente na região Nordeste sofreram diversas invasões do não-índio.
Dessa forma, a chegada de Zé
Carapina e sua esposa Izabel em 1893 – segundo
relatos e historiografia consultada - às margem de uma fonte de água conhecida na
região como
Ouricuri, marca o primeiro povoamento
indígena do
território que outrora seria atribuído o etnômio Jiripankó. Logo
após a chegada ao pé da serra onde hoje é localizado o centro do aldeamento,
ambos se estabilizaram com a criação de alguns animais e com uma agricultura de
subsistência, em regime de meeiro - regime caracterizado pela divisão da produção - com o dono da terra, fazendeiro poderoso na
região (PEIXOTO, 2016).
Com o passar do
tempo, alguns parentes foram fazendo o mesmo trajeto realizado por Zé Carapina
e Izabel. Tal movimento é explicado por ARRUTI (1996) como:
“[...] viagens de fuga, verdadeiras transferências
demográficas, mas muitas vezes reversíveis, através das quais grupos de famílias transferiam seu local de morada por tempo indeterminado, como recurso à perseguição, ao faccionalismo, às secas ou à escassez
de terras de trabalho. ”
(ARRUTI, 1996, p. 53)
Dessa forma,
começa a surgir a formação do povo Jiripankó. Os povos indígenas do Nordeste
passaram ao longo do século XX por inúmeros desafios, desde invasões às suas
terras a perseguições de seus rituais. Desse modo, tiveram que elaborar
estratégias de resistência para que lhes possibilitassem a sobrevivência de sua
identidade e cultura. (NEVES, 2017).
Assim sendo, o
povo Jiripankó utilizou-se da estratégia da invisibilidade, passando a viver à
margem da sociedade de Pariconha. A busca pelo reconhecimento étnico
surgiu a partir da década 1980 em articulação com outros povos
de Alagoas – Xucuru-Kariri, Wassu-Cocal e Kariri- Xocó – e o CIMI – Conselho
Indigenista Missionário. Momento no qual se consideraram fortes etnicamente
para iniciar a “Viagem da Volta” (OLIVEIRA FILHO, 2004). Tal conceito prevê uma viagem dos indígenas
as tradições religiosas.
No caso dos
Jiripankó, essa viagem seria realizada ao povo Pankararu, tronco formador e
detentor da tradição religiosa. De acordo o Sr. Genésio Miranda, Cacique da
Aldeia, na década de 1930, duas irmãs – Chica e Vitalina – vindas de Pankararu
foram responsáveis pelas transmissões de alguns conhecimentos. Sobre esse aprendizado, SANTOS (2015) afirma
que
“As regras que foram trazidas para o
Ouricuri-Comunidade do povo Jiripancó por Chica Gonçala e sua irmã Vitalina
(responsáveis pela continuidade da tradição), mesmo sem a intensão de recriar
outra aldeia fora de Pankararú, era natural cantar e dançar o toré ir para o
retiro na mata para as experiências onde acreditavam receber a força dos
“encantados”. Era comum ir a Pankararú, às escondidas, dançar com os praiás e
usar os dons da cura e ervas medicinais para curar os índios, era/é parte dos
ensinamentos da tradição. (SANTOS, 2015, p.44)”
Com isso, nota-se uma intensa
participação das mulheres no processo de reafirmação étnica e resistência no
aldeamento Jiripankó. Até nos dias atuais, sua importância e força –
relacionado a espiritualidade - é
visível na aldeia, pois durante a realização dos rituais sua participação se
torna necessária, como veremos adiante.
A formação da
identitária dos Jiripankó a partir da etnografia do ritual Menino do Rancho
O
aldeamento Jiripankó é originário do tronco Pankararu – Sertão de Pernambuco –
dessa forma, todas as expressões religiosas desse povo foram e são formas de
reafirmação da identidade dos Jiripankó. Os rituais nesse contexto servem segundo
GUEIROS e PEIXOTO (2016) como:
“[..]
um momento de fortalecimento identitário, pois tanto os jovens quanto os
adultos revivem, no ritual, uma atividade criada pelos seus antepassados em
tempos remotos. Pode-se dizer que é um momento de transposição do passado, no
presente. É um renovar de ações em reascender da pertença étnica.” (GUEIROS;
PEIXOTO, 2016, p. 14)
Com
isso, denota-se a importância do universo ritualístico como fortalecimento da
identidade e etnicidade dos povos indígenas. Entre os rituais que se fazem
presentes no universo religioso dos Jiripankó estão o clico de rituais da Festa
do Umbu – Flechada do Umbu, Puxada do Cipó e Festa do Cansanção – que acontecem
entre o mês de dezembro, quando o primeiro fruto do umbu se encontra maduro e
no final do mês de março, após o último dia da festa do Cansanção que ocorre em
quatro fins de semana e o ritual Menino do Rancho.
O
ritual de pagamento de promessa ou Menino do Rancho, não tem data certa para
acontecer, pois é uma festa em que a família do menino curado tem que oferecer
um “prato” a quem curou e a comunidade, isso requer uma condição financeira
favorável para sua realização.
Inicialmente,
um menino que apresenta sintomas de alguma doença é levado a presença do pajé
para realizar uma consulta. O pajé, como líder do mundo espiritual indígena
realiza um procedimento na criança para averiguar as causas da anomalia.
Realizado tal processo, o Pajé indica algum medicamento, banho de ervas ou
alguma dieta alimentar.
Se
após, esse procedimento a criança não melhorar os pais fazem uma promessa aos
Encantados - entidades do mundo espiritual ligadas
aos antepassados, atualmente servem como orientadores e protetores da aldeia.
Dessa
forma, o menino é levado à mesa no Poró, “[...] espaço simples e pequeno, mas
que assume grandes proporções enquanto elemento simbólico da religião
indígena”. (GUEIROS; PEIXOTO, 2016, p. 3). O Pajé por intermédio de alguma
entidade Encantada realiza o tratamento da doença; depois de constatado a
efetivação da cura, acontece à segunda parte do ritual que é o pagamento da
promessa pela família do menino que foi curado, como isso requer gastos
financeiros e o período entre a cura e festa pode demorar anos, ou até décadas.
O
ritual geralmente acontece na noite do sábado para o domingo, no sábado à noite
por volta de dez horas, os Praiás – vestimenta sagrada onde se materializam os
Encantados – saem do Poró e fazem a abertura, que consiste no movimento
denominado de encruzar, o batalhão de Praiás é quem realiza o movimento de
encruzamento do Terreiro. Quando saem do Poró os Praiás ao lado dos Cantadores –
indivíduos que à frente do ritual, executam os cantos e, através do maracá
definem o ritmo das performances – vão em sentido Leste formando o primeiro
passo para a formação da cruz; depois, em sentindo anti-horário, se deslocam em
direção ao Oeste, concretizando o momento inicial.
Nesse
espaço é muito comum encontrar pessoas das mais variadas idades, de crianças
até anciãos, o que se configura em excelente oportunidade para compartilhamento
da tradição. Segundo GUEIROS (2017):
“[...] é nesses espaços que as gerações do grupo passam a
interagir juntas, fazendo com que os mais velhos, detentores do conhecimento e saberes tradicionais, realizem transmissões e ensinamentos para os mais novos membros
da aldeia, o que,
por sua vez, contribui significativamente para que as crianças sejam inseridas
no universo religioso da comunidade e sejam influenciadas pela memória do
grupo. [...] (GUEIROS, 2017, p. 53)”
Ou
seja, são nesses ambientes em que as tradições do povo é transmitida as
gerações futuras, é um momento de compartilhamento da memória coletiva do grupo
que constantemente é partilhada nos rituais pelos seus membros. Dessa forma,
também a identidade do grupo vai sendo formada a partir das memórias, pois a
identidade e memória estão intrinsecamente ligadas entre si (CANDAU, 2012).
Na
manhã seguinte, no dia de domingo, momento onde acontece o ápice do ritual, os
Praiás junto com os Cantadores visitam a casa do menino, que os espera em
frente a sua residência junto com sua família e um Padrinho – homem escolhido
pelos pais da criança para “protegê-lo” durante a realização do ritual - esse
protetor geralmente encontra-se sem camisa e com o torso pintado de uma tinta
branca conhecida na região como Tauá.
Após
se organizarem em algumas performances no Terreiro, os Praiás juntos com os
Cantadores se deslocam até uma residência próxima – Tapera - , na qual será entregue
a primeira refeição do dia, o café da manhã – arroz, pirão e carne de bode
cozida.
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Foto 1: Praías recebendo a comida. Fonte: Acervo particular do autor. |
A
foto 1 demonstra o momento em que os Praiás junto com os Cantadores e os
observadores do ritual recebem o café da manhã. Em suas mãos, pequenos pratos
de barro - com arroz, pirão e carne de bode. O recebimento segue uma
hierarquia, primeiro os Cantadores, depois os Praiás e Padrinhos, quando esses
grupos recebem e encruzam o Terreiro com a comida agradecendo e oferecendo aos
Encantados, depois disso, os outros participantes podem se servir.
Terminada
a refeição, os integrantes do cortejo se deslocam para casa das Madrinhas e da
Noiva – mulheres escolhidas também pela família, que simbolicamente protegem a
criança, geralmente essas pessoas são bem vistas na comunidade ou são próximas
da família; receber um convite para ser Madrinha ou Noiva é um sinal de honra. Com
todos os personagens do ritual juntos, o cortejo se desloca até o Terreiro
principal da aldeia. A foto a seguir apresenta esse momento de cortejo.
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Foto 2: Madrinhas e Noiva. Fonte: Acervo do autor. |
A
imagem acima, apresenta as duas madrinhas – uma de cada lado – e a noiva – no
meio das madrinhas – as três com roupas discretas: de saias abaixo do joelho;
com corpo e rostos pintados com Tauá, na cabeça adereços que as destacam das
outras mulheres presentes no ritual. Percebe-se que um grande número de
padrinhos na parte de trás de foto, vale ressaltar que apenas um é escolhido
pela família, os outros participam por vontade própria. A foto mostra o momento
em que o grupo já está completo e, em grupo, se dirige ao Terreiro escolhido
pelo Encantado que realizou a cura.
Por
volta de duas horas da tarde é servido o almoço, nesse momento o público do
evento gira em torno de mil pessoas, é oferecida a refeição com o mesmo sistema
hierárquico da primeira. Ocorre uma pausa de aproximadamente uma hora nas
atividades do ritual, pelo menos ao público, pois em algum ambiente próximo os
Padrinhos traçam as melhores estratégias para proteção do menino.
Depois
da refeição, começa o ápice do ritual, o momento mais esperado, que é a “pega
do menino” pelos Praiás. Nesse momento, os ânimos dos presentes se afloram, de
um lado os Praiás com a missão de tocar em qualquer peça de roupa da criança e
dos outros Padrinhos que tem a função de não deixar isso acontecer.
Essa
brincadeira, ocorre em três momentos, a correria dos Padrinhos e Praiás em cada
ciclo é alucinante e se mistura com os gritos de euforia dos observadores
presentes. A preocupação dos espectadores com a “pega do menino”, os motiva a
procurar espaços vazios ao lado do Terreiro buscando proteção e uma ótima visão
do que está acontecendo.
Depois de constatado que algum Praiá tocou em
qualquer peça de roupa da criança, a brincadeira se encerra e simbolicamente a
criança é entregue ao Praiá/Encantado que a pegou. Essa entrega acontece no
meio do Terreiro, sendo visível ao público presente, é um momento de muita
emoção por parte da família e do zelador do Praiá - responsável por zelar da
vestimenta e do moço que a utiliza, tem determinadas obrigações dentro dos
rituais.
Esse
momento é permeado de conselhos dos anciãos ao Moço - individuo do sexo
masculino responsável por vestir a indumentária sagrada - pois ele será responsável pelo menino e lhe
orientará na inserção do mesmo na vida religiosa.
Depois
de encruzarem o Terreiro para seu fechamento, Praiás, Cantadores, Pajé e a
criança seguem para o Poró onde desenvolvem os momentos finais do ritual. As
atividades que ocorrem no ambiente do Poró são fechadas ao público, pois é
nesse espaço conhecido também como “casinha dos homens”, local no qual se tem
uma relação mais restrita com os Encantados (AMORIM, 2010).
Da Tapera ao
Terreiro: os papéis femininos no ritual Menino do Rancho
A
participação feminina nos rituais do povo Jiripankó é frequente, evidenciada
também em outros rituais, como a Festa do Cansanção, quando sua participação é
de extrema necessidade, pois nesse determinado rito é lhe conferida a função de
fazer uma oferenda ao Encantado, “[...] geralmente a oferenda é composta por um
cesto de cipó, contendo açúcar ou rapadura, umbu e alguns outros frutos como
laranja, banana, melão, melancia e até refrigerantes” (RODRIGUES, 2017, p.
774). Através dessa relação cria-se um diálogo com as entidades Encantadas.
No
ritual Menino do Rancho a participação feminina é bem específica, com funções
determinadas, como é o caso da Noiva e das Madrinhas. Os seus papéis fazem parte do universo
simbólico dos Jiripankó, pois quando finalizado o ritual, o menino não tem
nenhum compromisso ou laço afetivo com as participantes, apenas respeito e
admiração. As fotografias a seguir, apresentam essas três personagens em
momentos diferentes no ritual.
O papel da mulher não se delimita apenas no
apresentado, outra função que é específica da mulher em todos os rituais é o
preparo dos alimentos, esse é um dos cargos mais importantes. Muitas senhoras
deixam suas famílias alguns dias antes do ritual para se dedicarem
exclusivamente à cozinha. A fotografia a seguir, apresenta a estrutura do
espaço de preparação dos alimentos para as refeições; é o ambiente que tem como
nome Tapera.
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Foto 3: A tapera vista de dentro. Fonte: Acervo particular do autor. |
A Tapera é um ambiente bem simples como se pode
ver na fotografia, chão de terra batida, os tijolos expostos, aberturas do lado
para circulação de ar, tornando o lugar mais arejado, a comida é feita a partir
de um fogareiro, montado a partir de três pedras que servem de base para
colocar as panelas e entre as quais se coloca a lenha. Tal estrutura é
denominada de trempe e é bem comum na zona rural da região Nordeste e bastante
usada pelas populações indígenas dessa localidade.
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Foto 4: A mulher como cantadora. Fonte: Acervo Particular do autor. |
Na foto 4,
encontra-se talvez a participação mais significativa nos rituais da Mulher
Jiripankó. Essa cena mostra a “força” feminina em frente ao Terreiro; com
serviço de Cantadora, conduzindo através de seu canto e do balançado do Maracá
o ritmo dos Praiás, exercendo um diálogo com o mundo cosmológico. Tal função é
desempenhada geralmente pela figura masculina e a partir dessa foto, percebe-se
que a mulher também faz parte desse espaço nos rituais Jiripankó, saindo, dessa
forma, dos bastidores nos olhares dos observadores.
Algumas
mulheres ainda assumem o importante papel de ser Mãe de Praiá, determinada
função é de extrema relevância na comunidade, é uma posição de prestígio, pois
é o próprio Encantado que define quem assumirá o cargo de zelar as vestes
sagradas. Com isso, percebe-se que a Força Encantada tem ação extensiva para
ambos os sexos.
Considerações
Finais
Perceber
a participação feminina nos rituais Jiripankó é excitar o olhar para além
daquilo que está visível no primeiro plano, pois sua presença e participação
nesses eventos que configuram o mundo religioso da aldeia, ultrapassa os
limites do Terreiro, se entendendo a Tapera; a confecção da roupa do menino do
rancho; aos cuidados com as vestimentas sagradas – defumação, encruzamento e
outros procedimentos; na limpeza do Terreiro – realizada antes de iniciar o
ritual. A lista dos lugares ocupados pela participação da mulher no aldeamento
é longa. Outro importante destaque para o sexo feminino é que, em períodos de
corte de cana-de-açúcar, onde os homens viajam para as regiões da Zona da Mata
do estado, ou até para o estado Sergipe, as mulheres assumem a criação dos
filhos e o “controle” da aldeia.
Esse
trabalho – que ainda se encontra em andamento - não pretende suscitar uma
tomada de poder por parte das mulheres, discutir questões de gênero ou lutar
pela posição de destaque dentro do universo dos rituais e sim tornar a atuação
da mulher visível aos olhos dos observadores. Pois, entende-se que a ação das
entidades Encantadas é abrangente, tanto para os homens quanto para as
mulheres. Mas, se pretende lançar um olhar mais apurado sobre a participação
delas nos meios que compõem qualquer evento religioso Jiripankó.
Referencial
Bibliográfico
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ResponderExcluirOlá Yuri. Interessantíssima a temática sobre o ritual Menino do Rancho evidenciando a participação feminina no mesmo. O trabalho trata o ritual com muita riqueza sobre o processo da cerimônia, inclusive, pontuando as atividades das mulheres no evento, assim como, ressaltando a importância das mesmas no ritual.
ResponderExcluirA minha dúvida envolve a participação de mulheres Jiripankó dentro de serviços sagrados. Esta posição que as mulheres possuem nos rituais foi algo que estas galgaram ao longo do tempo ou sempre houveram papéis para elas dentro destes costumes?
Obrigada.
Renata Sayuri Sato Nakamine
Olá, Yuri.
ResponderExcluirImportante sua pesquisa sobre os rituais dos Jiripankó, pois revela aspectos da participação feminina e de como esse povo indígena entende e específica seu universo simbólico expressado, principalmente, nos rituais religiosos, à exemplo, do ritual Menino do Rancho. Diante de um mundo que não eximiu os indígenas do processo de globalização, e portanto, de mudanças nas regras culturais, os Jiripankó, conseguiram manter os rituais que dão significados ao mundo cultural e social que compartilham.
Outro exemplo, recente, da contribuição feminina para a os rituais indígenas, ocorreu entre os Yawanawa, do Acre, onde as mulheres assumiram papéis sociais e culturais, sobretudo, no âmbito ritualístico. Tal tarefa historicamente sempre foi realizada por homens, que ao longo de séculos de contato com a cultura ocidental foram deixando suas raízes culturais. Desta maneira, diante da necessidade de retomar os valores ancestrais da cultura indígena desse povo específico, as mulheres fizeram a revolução nas matas, assumindo postos até então sagrados ao universo masculino, exemplo disso é Rucharlo Yawanawa, primeira xamã da comunidade.
Mencionei tal fato, porque, primeiro gostaria de parabenizá-lo pela pesquisa, e, segundo porque penso que o debate sobre a influência da participação feminina nas sociedades indígenas é um assunto ainda pouco explorado pelos historiadores.
Olá, Renata.
ResponderExcluirDesde já agradeço pela pergunta.
A participação feminina pelo que foi possível averiguar nas pesquisas de campo e investigação bibliográfica, desde determinadas épocas fizeram parte do universo religioso dos Jiripankó. De acordo o Sr. Genésio Miranda, Cacique desse povo, na década de 1930, duas irmãs – Chica e Vitalina – vindas de Pankararu foram responsáveis pelas transmissões de alguns conhecimentos - termo referente às práticas religiosas. Dessa forma, notamos que a presença da mulher na religiosidade desse povo indígena sempre foi efetiva.
YURI FRANKLIN DOS SANTOS RODRIGUES
Olá, Renata.
ResponderExcluirDesde já agradeço pela pergunta.
A participação feminina pelo que foi possível averiguar nas pesquisas de campo e investigação bibliográfica, desde determinadas épocas fizeram parte do universo religioso dos Jiripankó. De acordo o Sr. Genésio Miranda, Cacique desse povo, na década de 1930, duas irmãs – Chica e Vitalina – vindas de Pankararu foram responsáveis pelas transmissões de alguns conhecimentos - termo referente às práticas religiosas. Dessa forma, notamos que a presença da mulher na religiosidade desse povo indígena sempre foi efetiva.
Ps. O comentário anterior foi publicado de forma anônima, peço desculpas.
YURI FRANKLIN DOS SANTOS RODRIGUES
Olá, Megi Dias.
ResponderExcluirAgradeço pelo comentário.
Na historiografia a presença da mulher permaneceu marginalizada e silenciada por muito tempo, mas o número de trabalhos tem aumentado nas últimas décadas, trazendo nossas perspectivas sobre a atuação feminina em vários espaços. Espero estar contribuindo nesse sentido.
YURI FRANKLIN DOS SANTOS RODRIGUES