O
PENSAMENTO POLÍTICO DO BARÃO DO RIO BRANCO E O IMPÉRIO DO BRASIL
Danilo
Sorato Oliveira Moreira
Este
ensaio pretende fazer apontamentos iniciais sobre como se constitui o
pensamento político do Barão do Rio Branco durante a sua atuação no Império do
Brasil, enquanto representante do estado do Mato Grosso na Câmara dos Deputados
e jornalista no periódico A Nação entre as décadas de 1860 a 1870. Esse espaço
temporal é primordial para entender a dinâmica da sua atuação política, pois a
partir da assunção como Embaixador em Liverpool em 1876, ele passa a cuidar
diretamente de assuntos externos do país. Essa temática vai povoar o imaginário
de Rio Branco até o final de sua vida, já que em 1902 ascende a condição de
Ministro das Relações Exteriores.
O
Barão do Rio Branco é analisado pela literatura especializada como um dos
fundadores da diplomacia brasileira, o que marca a sua atuação destacada em
Política Externa. Ele é visto como um marco pela capacidade de ter resolvido
diversos conflitos fronteiriços do país em suas díades com vizinhos,
especialmente nas questões da Argentina, Amapá e Acre. Como diz Ricupero
(2015), em qualquer estudo sobre a diplomacia brasileira e a Política Externa,
esse personagem ocupa uma “posição excepcional”. No Amapá, esse personagem
histórico é visto de muitas formas após solucionar o problema fronteiriço entre
os Rios Araguari e Oiapoque com a França em 1900. Existem narrativas históricas,
como aponta Sorato (2018), que visualizam suas façanhas como algo heroico e
arquetipado, outros analisam como algo excludente, estereotipada e que produz
silêncio e esquecimento.
Em
muitos momentos, o seu pensamento político interno é abordado de forma tímida.
Segundo Santiago (2014), o Barão do Rio Branco é o resultado dos atores
políticos imperiais, divididos entre liberais e conservadores, onde os segundos
marcam a sua transformação como ator político interno e externo. Essa pauta é
construída em seu seio familiar com o pai, Visconde do Rio Branco, um dos nomes
mais atuantes do Partido Conservador na segunda metade do século XIX. Entender
a conexão do filho ao pai é fundamental nesse trabalho, já que boa parte do
período analisado é caracterizado pela atuação do filho junto com as bandeiras
do pai junto ao Conselho do Império.
O
Partido Conservador aparece na cena nacional a partir dos anos de 1830 a 1840.
É fruto da fusão de várias visões compartilhadas de personagens políticos, como
Bernardo Pereira de Vasconcelos. O princípio basilar dessa estrutura partidária
é manter a unidade nacional do Império, a partir da figura do Imperador. Em
outras palavras, existe um respeito a Constituição de 1824 com o instrumento do
Poder Moderador, como o núcleo que mantém a coesão e a ordem no país. Assim,
diz Torres (2017), ao analisar os axiomas e finalidades que caracterizam a
atuação política do chamados Saquaremas. Ele diz que:
“Numa
tentativa de definição, poderemos dizer que o Partido Conservador lutava pela
unidade nacional e considerava como instrumento adequado o conjunto de
instituições consubstanciadas na Constituição de 25 de março de 1824. Os
conservadores admitiam que o sistema político, vigente no Brasil, sobre ser
legítimo, era útil e vantajoso para o fim supremo: a unidade nacional fundada
sobre a democracia liberal.” (TORRES, 2017, p. 31)
Dessa
forma de atuação política, em que a unidade nacional necessita de uma
autoridade central e forte, é que o Barão do Rio Branco tem como exemplo de
representação em seu pai. Assim, pode-se dizer que a sua chegada ao Parlamento
brasileiro e como editor do Jornal A Nação entre fins de 1960 e a primeira
metade da década de 1970, aponta para uma defesa dos valores e princípios
basilares dos Saquaremas. Essa é uma das ideias defendidas por Henrich (2009),
quando aborda a ideia de Brasil de Rio Branco mostra que a partir de 1872,
quando assumi a edição do periódico, local em que eram defendidas as posições
nacionais do Partido Conservador, como por exemplo a Lei do Ventre Livre e as
ações de Política Externa na região do Prata. Algo fundamental lembrar é que o
seu pai, Visconde do Rio Branco, nesse momento é conselheiro de Estado do
Império. Portanto, de alguma forma a defesa das ações políticas do pai representavam
também, a defesa dos valores políticos do filho.
A
sua chegada ao Parlamento se dá entre os anos de 1869 a 1875, como
representante político da província do Mato Grosso. Nesse ensaio, ainda não são
abordadas as fontes primárias em que são mostradas as suas proposições de
projetos no Parlamento, que podem revelar um pouco mais quais eram seus
interesses políticos naquele espaço. Entretanto, cabe mencionar que as fontes
primárias desse tema estão disponíveis para consulta no site Câmara dos Deputados,
na coleção dos Anais. Aqui, vale lembrar três dos seus discursos políticos
catalogados numa coleção da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) nos nãos de
1869 e 1870. Neles, são abordados dois temas de sua agenda política: a questão
de limites entre as províncias de Mato Grosso e Goiás e a reforma do regimento
interno da Câmara. (FUNAG, 2012)
No
jornal, A Nação, em seu primeiro número em 03 de julho de 1872, aparece no
editorial chamado, A Nação, qual é a proposta e objetivo do periódico para o
seu público. Em debate nacional que envolve a escravidão, em dado momento, ele
se apresenta como defensor das ideias conservadoras diante dos ideias liberais.
Ele diz que a missão do jornal é:
“[...]
Eis a missão deste jornal. Arauto do
progresso reflectido, que é a grande aspiração da nossa epocha, guarda das bem
entendidas liberdades, da ordem social e das instituições juradas, a Nação aparece na imprensa diária como
órgão do generoso partido, que extinguio o trafico de africanos, acabou com a
tyrania de Rozas e Oribe, promoveu a livre navegação do Prata e seus
affluentes, fez sulcar pelo vapor as aguas do majestoso Amazonas até o Perú,
traçou as primeiras linhas da rede de estradas de ferro que ha de ligar um dia
os quatro angulos do Imperio, fundou o credito publico, reorganizou o exercito
e a armada, pôz termo com honra e gloria á guerra do Paraguay, decretou a
reforma judiciaria, e escreveu a sua bandeira a santa legenda de 28 de setembro de 1871; do partido, enfim, que sustentou
sempre a monarchia constitucional representativa, associando as recordações de
sua passagem pelo poder a idéa dos grandes melhoramentos politicos e
administrativos, que hão feito à felicidade do Brazil.” (Grifo nosso, A Nação, 1872, p. 1)
A
frase citada acima demonstra os fins do A Nação, como o defensor das causas
políticas implementadas pelo Partido Conservador em seus momentos no poder do
Conselho de Estado. Como diz o periódico, escrito por Rio Branco, essa defesa
ocorre em grande medida por considerar esse partido político aquele que melhor
representa aos anseios de unidade nacional e a defesa da Constituição. Essa
ideia se coaduna com o expresso pelo autor Torres (2017) acerca dos fins e
objetivos do Partido Conservador no Brasil. São defendidas as principais ações
políticas dessa agremiação partidária desde 1830, com a extinção do tráfico de
escravos, até os dois eventos mais recentes como a Guerra do Paraguai e a
“legenda de 28 de setembro de 1871”.
O
ano referenciado no jornal a Nação tem que ver com o momento de aprovação da
Lei do Ventre Livre. Aprovada durante a gestão de Rio Branco, considera-se
pelos defensores do Partido Conservador um importante passo para a libertação
dos escravos de forma equilibrada, lenta e gradual. A lei positivada garante a
seguinte condição aos escravos nascidos a partir daquela data que aos 8 anos, o
escravo menor tinha duas possibilidades. Primeiro, ser livre, com uma
indenização paga pelo Estado de 600$000. Segundo, continuar trabalhando para o
senhor até os 21 anos. É importante perceber que nesses dois casos não é a mão
de obra escrava que decide o seu destino, mas sim o senhor de escravos.
Portanto, a lei de 1871 é uma mudança no universo da escravidão bem pequeno,
onde não há muito espaço para autonomia do cativo menor.
Na
edição seguinte do A Nação, em 4 de julho de 1872, no seu editorial, mais uma
vez, o periódico serve como espaço de divulgação das ações políticas do
Gabinete 7 de março de 1871. O Barão do Rio Branco, como editor, age para
defender as bandeiras do seu pai e do seu partido político. Assim, há uma
necessidade de afirmar que o governo atual está recuperando o país. Através de
suas atitudes políticas está transformando o Brasil em um país civilizado e
ordeiro. Ele começa assim a advogar pela causa:
“Desgarrada
como vai entre nós-a imprensa opposicionista, que tem preferido os trilhos
escorrogadios da calumnia ás sendas brilhantes da verdade, destinamo-nos a
ennobrocer a polemica, norteando-a pela rota por que om todos os tempos se encaminharam
todos aquelles quo têm sabido elevar a imprensa a um honroso e fecundo mister.
Amamos de coração as pugnas da intelligencia, e diante dos inefáveis júbilos
que podem ser fruidos pelo estudo, é para lamentar que homens do notório
talento se tenham dado ao fadigoso labor de subirem ás fragas de paixões
detestaveis, que não podem produzir nada de serio ou succulento. A situação,
que corre, tem titulos legitimos á adhesão publica, e no muito que já tem feito
o patriótico gabinete de 7 de Março, ha seguros pennhores e sério abono de que
outros muitos melhoramentos virão completar as legitimas aspirações de que se
acham possuidos os respeitaveis cidadãos, que acham-se no poder. [...]” (A
Nação, 1872, p. 1)
O
editorial faz uma crítica a postura da imprensa oposicionista, ligada aos
outros partidos, como o Liberal. Além do mais, faz uma valorização do
“patriótico gabinete de 7 de março”, no qual com suas atitudes políticas está
colocando o país no caminho das grandes nações civilizadas. Nesse mesmo espaço,
Rio Branco, o filho, defende que o Brasil está próximo da Inglaterra. Ele diz
assim:
“[...]
Encarado sob este ponto do vista, nosso abençoado paiz pareçe fadado
aos'melhores destinos; modeladas as instituições pelas que vigoram na
Inglaterra, berço feliz da liberdade moderna, possuindo uma legislação do
conformidade com os habitos pacificos da população, rico de favores do céo, e
opulentado tambem pelo trabalho de seus filhos, o Império prospera a olhos vistos
e parece aspirar no ambiento puro, que o envolve, a saude do corpo, o saude
d'alma, tambem. [...]” (Ibid)
A
comparação com o governo inglês, potência mundial na época, faz-se fundamental
para que sejam defendidas as ações políticas tomadas pelo Gabinete de 1871.
Elas, sobretudo a Lei do Ventre Livre, são consideradas marcos civilizatórios
do país em conformidade com o “berço da liberdade moderna”. Mais uma vez, o
editorial cumpre a sua missão estabelecida na edição anterior, isto é, ser o
braço defensor do Partido Conservador no país. Nessa finalidade, encontra-se
Rio Branco, o filho, demonstrando claramente as sus preferências políticas
durante a segunda metade do Império. Isso altera um pouco a memória defendida
sobre ele, onde ao estar ligado com assuntos do ambiente externo, não se
vincula com assuntos políticos internos. Nesse momento, ainda construindo o seu
personagem político na estrutura burocrática brasileira, José Maria da Silva
Paranhos Júnior, não é alguém neutro nas principais discussões imperiais. Ele é
fruto do seu contexto histórico e familiar, no qual aparecem as principais
figuras do Partido Conservador ligado ao seu pai, José Maria da Silva Paranhos.
A
fim de concluir este ensaio, o pensamento político do Barão do Rio Branco no
Império do Brasil durante os anos de 1860 a 1870, é uma pesquisa em vias de
construção. Isso quer dizer que a análise das fontes primárias, como o jornal A
Nação, são apontamentos iniciais da possível atuação política desse personagem
histórico. Nela, como editor de um periódico que defende as bandeiras do
Partido Conservador, Paranhos Junior marca o caminho a seguir, com a defesa dos
valores e unidade nacional, autoridade e a Constituição,
em sequência com a tomada de posição favorável as ações política do Gabinete de
1871, do seu pai, Visconde do Rio Branco, tal como a Lei do Ventre Livre. Essas
interpretações históricas iniciais revelam que o sujeito histórico é fruto de
um contexto histórico e familiar carregado pelos Saquaremas. Na sequência desse
ensaio, o debate bibliográfico mais aprofundado e das fontes primárias, como os
Anais da Câmara dos Deputados entre 1869-1875, podem revelar novos aspectos do
pensamento político do Barão do Rio Branco.
Referências
Danilo Sorato Oliveira Moreira é Mestre
em Ensino de História (Universidade Federal do Amapá – UNIFAP). Graduado em
História (Universidade Federal do Pará – UFPA).
A Nação, Anno I, Rio de Janeiro, Quarta-Feira,
3 de julho de 1872. n. 1.
________, Anno I, Rio de Janeiro, Quinta-Feira,
4 de julho de 1872. n. 2.
FUNAG.
Obras do Barão do Rio Branco IX:
discursos. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. Disponível em:
<http://funag.gov.br/loja/download/978-Obras_do_Barao_do_Rio_Branco_IX_discursos..pdf>. Acesso em: 29/11/2018.
HENRICH,
N. O Barão do rio Branco e a sua idéia de Brasil. In: SEMINÁRIO NACIONAL
SOCIOLOGIA E POLÍTICA, 1., 2009, Curitiba. Anais...
Curitiba: UFPR, 2009. p. 1-14. Disponível em: <http://www.humanas.ufpr.br/site/evento/SociologiaPolitica/GTs-ONLINE/GT6%20online/EixoIII/barao-rio-branco-NathaliaHenrich.pdf>. Acesso em: 10/11/2018.
RICUPERO,
R. José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco): A fundação da
política exterior da República. In: PIMENTEL, J. (org.). Pensamento diplomático brasileiro: formuladores e agentes da política
externa (1750-1964) – Vol. II. p. 405-438. Disponível em: <http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=507>. Acesso em: 30/11/2018.
SANTIAGO,
E. A esfinge desvelada: O pensamento político do Barão do Rio Branco. In: ENCONTRO
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA CIÊNCIA POLÍTICA, 9., 2014, Brasília. Anais...Brasília: ABCP, 2014. p. 1-22. Disponível
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SORATO,
D. Silêncios que falam, palavras que
nada explicam: as narrativas históricas comparadas sobre a Questão do Amapá.
Dissertação (Mestrado em Ensino de História), Universidade Federal do Amapá,
Macapá, 2018.
TORRES,
J. Os construtores do Império – Ideias e
lutas do Partido Conservador Brasileiro. Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Especiais, 2017. Disponível em: http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/36280>. Acesso em: 11/11/2018.
Barão do Rio Branco, figura política importante do Império ficou conhecido como um grande negociador e diplomata. Ha na obra do Barão um capítulo específico sobre a região amazônica. Em que obra encontramos estes registros.
ResponderExcluirBom dia, Francivaldo Nunes
ExcluirTudo bem?
Obrigado pelo comentário e pergunta. Bem, na vasta obra de Rio Branco existe um livro chamado Oiapoque e Amazonas, lançado pela Editora do Senado Federal. Ela subsidiou os argumentos do diplomata nas questões de Limites nas duas regiões. Espero que seja essa hehehe
Caso não seja, fico no aguardo de suas valiosas contribuições.
Um abraço,
Danilo Sorato Oliveira Moreira.
Vou buscar esta obra. Muito obrigado pela indicação. Abraço.
ResponderExcluirPor nada, Francivaldo. Abraço fraterno.
ExcluirDanilo Sorato Oliveira Moreira.