PRAÇA MATRIZ DE ANANINDEUA: UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL OU UMA PROPRIEDADE DA IGREJA CATÓLICA?
Andreia Brito Lucas*
João Carlos Lopes Cardoso*
Zilda do Socorro de Souza Pereira*

Iniciaremos este artigo fazendo um breve histórico sobre a cidade de Ananindeua, onde se constata que as terras onde está situado hoje o município de Ananindeua são provenientes do antigo território da circunscrição belenense, ficando vizinha da capital do estado.

A localização de Ananindeua é uma das mais convenientes e importantes, pois, além da vantajosa proximidade de Belém, a atração de argumentos populacionais, bem como as acessíveis possibilidades de trabalho e a ocorrência de vias fáceis de transportes são fatores relevantes para a posição que ocupa.

De acordo com levantamento historiográfico temos por definição que Ananindeua é topônimo de origem tupi, que significa “lugar de Ananim”, abundância de Ananim ou anini, que é uma gutiferácea que tem sapupemas em forma de joelho e flores escarlates muito abundantes. Produz uma resina chamada “Cerol”. Onde o nome de Ananindeua originou-se da grande quantidade de árvores chamadas anani, que existiam ali em tempos remotos, especialmente a margem do igarapé que recebeu o nome de Ananindeua, denominação esta que com agrado geral dos filhos da terra permanece até hoje.

Relativamente às suas origens históricas e à sua evolução, Ananindeua, remonta a meados do século XIX, quando surgiu ali uma parada da extinta Estrada de Ferro de Bragança com o citado nome e teve continuidade, depois de constituída em freguesia e mais tarde em distrito de Belém.

Ananindeua chegou ao século XXI com mais de três séculos de histórias, com personagens importantes, alguns até anônimos, mas que deram brilho aos fatos que marcaram época e que ajudam a contar a história e origem de Ananindeua, que ao longo dos anos consegui se desenvolver com dignidade, provando que uma cidade se constrói com a história de seu povo.

Após essa introdução iremos explanar sobre a Igreja Matriz de Ananindeua, pois de acordo com fontes historiográficas foi no ano de 1920, que começou a ser construído o primeiro núcleo religioso urbano do município, a época chamada de Capela de Nossa Senhora das Graças. Observamos também, que já em 1935, inicia a construção da atual igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, com sua estrutura imponente que se implantava onde hoje temos a Praça Matriz de Ananindeua, neste momento já se consegue notadamente observar a presença marcante da religiosidade no município. Em decorrências desses fatos e com um rápido crescimento populacional no munícipio começaram a ter algumas modificações em torno da igreja católica implantada naquele local.


Foto: Igreja Matriz de Ananindeua (Biblioteca do IBGE)
(http://adrielsonfurtado.blogspot.com/2010/03/ananindeua-lugar-de-ananin.html)


De acordo com nossa pesquisa de campo, constatamos que ao lado da igreja matriz foram construídas, na década de 80, duas escolas: EEEF Armando Fajardo e EEEFM Walter Bezerra Falcão, tendo suas entradas principais com acessos diretos à Praça Matriz de Ananindeua, até então chamada de Praça Raimundo Vera Cruz, um local bastante arborizados e com muitos bancos para sentarem e prosear os alunos na saída das escolas, também houve na praça naqueles tempos áureos uma belíssima quadra esportiva na qual eram realizadas as atividades de Educação Física das duas escolas e também serviam de lazer à população.


Fonte: Praça Matriz 1980, por Claudio Freitas - Ananindeua - Pa

Os relatos colhidos nos mostraram que o tempo foi passando, os governantes municipais renovando-se e cada vez modificando esse que é um patrimônio público de Ananindeua, a Praça Matriz. Houve quem transformasse a praça numa verdadeira apoteose com um grande monumento que era marcante a quem passava na BR-316 e vislumbra-se com um monumento apoteótico e uma concha acústica belíssima.

Foto: Antigo monumento da Praça Matriz. (http://adrielsonfurtado.blogspot.com/2010/03/ananindeua-lugar-de-ananin.html)


Percebe-se que toda a praça com seus monumentos e suas modificações ocorridas ao longo do tempo e que ficava ao entorno da igreja serviam como uma grande área de lazer à população. Segundo dados históricos o monumento acima era um dos símbolos representativos de Ananindeua e que foi demolido no final da década de 1990 para reestruturação da praça, na visão de um novo governante municipal.

Segundo Guimarães ( 2001)

“É como parte dessas demandas que devemos encarar o interesse contemporâneo em torno do patrimônio e das tarefas de patrimonialização do passado. Com isso, queremos deixar claro que o estudo do patrimônio só pode ser compreendido a partir da vinculação com as problemáticas atuais que definem interesses específicos com relação ao passado”.

Ao desenvolvermos um trabalho de campo da disciplina História e Educação Patrimonial do curso de História da UFPA, campus Ananindeua, foi possível resgatar muitas informações sobre a praça matriz por meio de relatos pessoais de quem frequenta, trabalha ou residem no entorno da praça matriz. Segundo fontes históricas a praça matriz de Ananindeua foi fundada na década de 50, passou por várias reformas e até ser novamente reinaugurada em 2014.

Também para corrobora com esses estudos a colocação de Guimarães (2001) nos remete a constatação que

“Portanto, refletir sobre patrimônio pode e deve ser uma das preocupações do campo historiográfico, submetendo-o a uma investigação que sublinhe a dimensão histórica de sua invenção. Como toda escrita histórica, a reflexão em torno do patrimônio deve considerar as situações históricas de sua emergência – dos discursos e narrativas acerca do patrimônio – como forma de compreender a patrimonialização do passado.”

Foi muito proveitoso gravarmos esses relatos que serviram de base para este artigo, uma vez que colhidas os relatos, conseguimos elaborar um painel com imagens que retratam o antes e o agora da praça matriz. Também foi possível resgatar ou saber que houve um plesbicito para saber quem tomaria conta da praça matriz, o poder público ou a igreja católica? E que neste plesbicito foi decidido que a igreja católica assumiria a praça matriz, porém acreditamos que houve um grande empoderamento do que consideramos um patrimônio histórico cultural por parte da igreja.

A Praça Matriz de Ananindeua sempre foi palco de devoção religiosa, onde diversas comunidades do município de Ananindeua realizam suas procissões religiosas neste local.  Deveria ser um espaço público para ser utilizado por todos os cidadãos, porém em virtude de questões políticas, a Praça Matriz que é um patrimônio público foi cedida para que a Igreja Católica administre a praça, que hoje se torna um patrimônio privado, uma vez que foi toda cercada e tem horário para abrir e fechar tudo sob o comando da igreja católica que existe na praça matriz.

Notadamente, observa-se que em nossos dias atuais constatamos que a praça está cercada por grades fazendo o isolamento da igreja, tendo hora para abrir e hora para fechar, não sendo permitido ficar livre para a população uma praça pública a noite toda, percebe-se nisso que há uma intransigência de determinado setor da sociedade.

Para concluir nossa pesquisa de campo concatenamos o que Guimarães (2001) ressalta

“Assim, esses objetos que acreditamos pertencer ao patrimônio de uma coletividade, e hoje, até mesmo da humanidade, estabelecem nexos de pertenciamento, metaforizam relações imaginadas, que parecem adquirir materialidade a partir da presença desse conjunto de monumentos. O termo patrimônio supõe, portanto, uma relação com o tempo e com o seu transcurso. Em outras palavras, refletir sobre o patrimônio significa, igualmente, pensar nas formas sociais de culturalização do tempo, próprias a toda e qualquer sociedade humana.”

Dessa maneira, que o historiador precisa narrar e apresentar os fatos históricos para que se tornem significativos a toda uma coletividade humana que sempre apreciaram e desfrutaram deste patrimônio cultural, pois ainda assim percebe-se que há uma grande incógnita sobre nossos estudos a serem mais aprofundados, com isso deixamos aqui o seguinte questionamento: A Praça Matriz de Ananindeua é um Patrimônio Histórico Cultural ou uma Propriedade da Igreja Católica? Com a palavra nossos historiadores ou quem possa interessar os estudos sobre patrimônio histórico e cultural de nossa cidade.

Referência Bibliográfica

*Discentes do Curso de História – UFPA/Ananindeua

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. História, memória e patrimônio. Revista do Patrimônio Histórico Nacional. Rio de janeiro, IPHAN, n. 34, p. 91-130, 2011.

17 comentários:

  1. Que trabalho maravilhoso!Muito me interessa esse debate. Acredito que extinção do monumento da praça matriz e a sua existência apenas em foto nos leva a conjecturar sobre a preocupação que vocês trazem, justamente desses embates anteriores da praça ser patrimônio de ordem do poder público ou de posse da igreja. O levantamento e a derruba agora me levaram a refletir a um processo de conflitos e construções de memórias desses espaços por esses lados, poder público e a igreja. Assim como não podemos deixar de lado, as memórias dos moradores que agregam à praça, bem como mostra a foto de arquivo pessoal, em registrar um pedaçinho da praça aonde com certeza mantinha relações. Sem perguntas, compartilho com os amigos (se pretendem seguir na pesquisa) locais para o levantamento de fontes. Além da biblioteca Arthur Viana localizada no centur, há também o Arquivo público do Estado do Pará. Nos acervos digitais a Biblioteca Nacional possui documentos que abordam a praça, bem como o acervo de fotografias do IBGE, também a hemeroteca digital Bn e a página Ananindeua Cidade Nova aonde é possível encontrar fotografias doadas por moradores antigos do centro de Ananindeua.

    Talita do Rosário

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  2. Reconsiderando o que eu disse no comentário anterior de não haver perguntas. Bem, através dos relatos orais voces identificaram quando ocorreu esse plebiscito?

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    1. Bom dia de acordo com relato oral de uma pessoa comerciante da praça esse plebiscito ocorreu no ano de 2000 ou 2001 aproximadamente não temos ainda fonte histórica exata mas que pretendemos buscar essa fonte precisa.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O presente trabalho é bastante pertinente nas discussões em que aparecem fontes orais e documentais que agregam informações sobre o público e o privado. Porém, penso que seria interessante ouvir o que dizem os sujeitos acerca do papel da Igreja católica em relação a esse bem privado. No trabalho de campo que foi realizado, conseguiram coletar informações sobre a apropriação da Igreja Católica sobre esse este patrimonio Cultural? Quais?
    Vania Carvalho

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    1. Bom dia como nossa pesquisa era identificar e apresentar um patrimônio histórico nós conseguimos apenas relatos pessoais de quem mora e reside nas proximidades da praça assim também como comerciantes ao entorno. Também há depoimentos de quem frequenta a igreja.

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  4. Bom dia como nossa pesquisa era identificar e apresentar um patrimônio histórico nós conseguimos apenas relatos pessoais de quem mora e reside nas proximidades da praça assim também como comerciantes ao entorno. Também há depoimentos de quem frequenta a igreja.

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  5. Muito obrigado pelos comentários e também pelas fontes históricas informadas iremos em buscar destas fontes para ampliar esta discussão que achamos muito importante para nossa cidade.

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  6. Nossa pesquisa se baseia,em redescobrir as origens de construção da Praça matriz de Ananindeua.Buscando a valorização da história de nosso município de Ananindeua.

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  7. Isso mesmo Zilda como nossa universidade está no município de Ananindeua nós como historiadores deveremos buscar através de fontes históricas valorizar e resgatar a história de nosso município.

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  8. Nossa pesquisa busca informar a população de Ananindeua, que muitas das vezes não sabe que essa bela praça e uma das maravilhas de nossa cidade

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  9. Olá! Parabéns aos grupo pelo trabalho. Diante do que foi exposto no texto, e de outras possíveis informações que os autores podem ter, uma questão que tenho é se os autores conseguiram identificar, no contato com os moradores entrevistados durante a pesquisa, qual a opinião destes no que se refere às transformações estruturais/físicas pelas quais praça tem passado (por exemplo, com a demolição daquele monumento apoteótico que a imagem mostra). Como esses moradores veem essas transformações? Se sentem representados, como frequentadores do local, diante das mudanças ocorridas (principalmente depois do plebiscito que houve, que acabou por resultar em algumas restrições, como o não acesso à praça pelos moradores/frequentadores em determinados horários)?

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    1. JOÃO CARLOS LOPES CARDOSO13 de dezembro de 2018 às 16:58

      Obrigado pelos comentários Rafael, bem respondendo seus questionamentos foi possível perceber pelas falas dos entrevistados que a maioria não se sente a vontade em comentar esse assunto com medo de represálias, principalmente quem sobrevive deste espaço, quanto aos moradores e frequentadores do local não apoiam e nunca apoiaram essas mudanças. pois privam eles de usufruir de um bem público.

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